​​pecado da preguiça
belphegor
Belphegor, em Midrel, é o Arquétipo da Estagnação, a entidade que carrega o peso paralisante da Preguiça Absoluta, mas não como simples indolência. Ela representa o desinteresse existencial, a apatia espiritual, o desligamento da vontade — a negação de qualquer impulso criativo, construtivo ou transformador. Belphegor não é apenas quem dorme. Ela é quem assiste o mundo desmoronar sem mover um dedo.​ Sua forma é quase sempre envolta em véus grossos, como um casulo de seda escura ou névoa pesada. Raramente se ergue. Seus movimentos são lentos, pesados, como se cada gesto exigisse esforço demais para valer a pena. Seu rosto, quando visível, traz uma beleza melancólica e entorpecida, de alguém que já viu tudo.
Mas o pecado da preguiça que ela representa é muito mais perigoso do que parece. Não se trata de mera vontade de descansar. Belphegor semeia o esquecimento do propósito, o abandono da ação, a crença de que nada importa. Sob sua influência, impérios param de evoluir, heróis deixam de lutar, artistas param de criar, magos esquecem de buscar o saber. Ela não destrói pela força — ela destrói pela ausência. Pela ausência de paixão, de responsabilidade, de movimento. Seu reino espiritual é conhecido como Abyssos Somniorum, o Abismo dos Sonhos Abandonados. Lá, o tempo não corre. As almas flutuam em mares densos de névoa, sonhando com o que poderiam ter sido, repetindo mentalmente ideias que jamais colocaram em prática. É um reino sem dor.

​características da besta
conhecimento geral
Belphegor, em Midrel, é conhecida como a Sussurrante do Fim Lento, uma entidade que não arrasta multidões ao desespero, nem corrompe com promessas flamejantes. Ao contrário dos outros Pecados, Belphegor atua como um peso invisível que repousa suavemente sobre os ombros da alma, até que o espírito, exausto de carregar vontades, simplesmente pare. Sua essência não é feita de escuridão nem de luz. Ela é feita de cinza, de tempo suspenso, de potencial não realizado. Ela é a voz interior que diz “não agora”, “depois”, “pra quê?” — e que repete isso tantas vezes que o mundo continua sem o indivíduo, e o indivíduo nem percebe. Belphegor não provoca medo nem revolta. Ela oferece alívio, o alívio perigoso da renúncia silenciosa, do abandono voluntário, da paz sem mérito, sem ação.
Os antigos textos dos monges de Halneth descrevem Belphegor como uma entidade que existia antes do tempo andar, uma presença cósmica que repousava entre o impulso da criação e o primeiro ato. Dizem que ela sussurrou aos deuses em formação que talvez fosse melhor não criar coisa alguma — que a existência já era fardo demais. Mas foi ignorada. Desde então, ela espera. Não para destruir, mas para acolher aqueles que um dia cansarão de tentar. Sua forma é difusa, quase sempre reclinada ou envolta em véus translúcidos. Alguns a descrevem como uma figura feminina adormecida sobre uma pilha de ideias abandonadas. Outros veem apenas um vulto curvado sob o peso de memórias esquecidas. Nunca se ergue. Nunca grita. Apenas olha — com um cansaço antigo, de quem já viu bilhões se esforçarem... e falharem. Belphegor reina em Abyssos Somniorum, o plano onde os sonhos morrem de tédio. Lá, tudo é brando, calmo, sem dor, mas também sem cor. Os sons são abafados, as vontades ecoam e se perdem, e o tempo é uma névoa estática que anestesia até os pensamentos. Almas que vão para esse domínio não são punidas — são esquecidas. Elas não sofrem. Elas simplesmente... deixam de importar.​ Na vida mortal, sua influência cresce nos vazios da rotina: projetos não terminados, amores não declarados, lutas não travadas, palavras que nunca foram ditas. Cada renúncia inconsciente, cada desistência sem razão, é uma pétala no jardim invisível que ela cultiva no coração dos vivos.

​pacto demoníaco
fim da vontade
O Pacto Demoníaco com Belphegor, em Midrel, não é selado por ambição, nem nasce de desejos grandiosos. Ele acontece no exato instante em que alguém decide não fazer nada. Não por medo, nem por fraqueza — mas por um esvaziamento súbito da vontade. O pacto com Belphegor não é buscado. Ele é permitido. Não exige sangue, sacrifício ou palavras solenes. Ele começa com a desistência. Belphegor não aparece. Ela se manifesta como alívio, como um cobertor invisível que cobre o pensamento e sussurra que o mundo é barulhento demais, que tentar é inútil, que tudo pode esperar. O momento do pacto é imperceptível: é aquele suspiro profundo quando alguém, diante de uma escolha difícil, simplesmente desiste de escolher. E nesse momento, a Sussurrante do Fim Lento entra e permanece.
O selo do pacto é invisível aos olhos, mas pesa na alma como um véu. O tempo passa mais devagar ao redor do pactuado. Suas palavras se tornam distantes, seu corpo age como se estivesse sempre cansado, mesmo quando em repouso. Mas em troca dessa apatia, ele se torna intocável pelas pressões do mundo: as emoções negativas se amortecem, a dor física é menos sentida, e a mente entra em um estado de entorpecimento confortável. Ele pode observar o caos sem se afetar. Nada mais o atinge com força real. Belphegor concede um dom perigoso, chamado Somnus Inertia, o Sono da Inércia. Com ele, o pactuado pode induzir letargia em tudo ao seu redor: inspirar estagnação em inimigos, enfraquecer a vontade de luta de uma multidão, fazer magias falharem por inércia mental, e até apagar o entusiasmo de quem o confronta. Uma simples conversa com ele pode quebrar a motivação de um guerreiro, ou fazer um aliado esquecer por que estava ali. Não é feitiço — é presença. O peso da desistência paira no ar. Com o tempo, no entanto, o preço se revela. O pactuado perde lentamente o brilho da existência. O que antes era prazeroso se torna repetitivo. O que era objetivo se torna distante. Os sonhos se desfazem como vapor. Ele não sofre... mas também não vive. As relações murcham. As memórias recentes desaparecem. E por fim, o pacto o transforma em um ser esquecido até por si mesmo — alguém que respira, mas não se move.

​poder da besta
silencio do fim
O poder de Belphegor, em Midrel, é chamado de Letum Quietus, o Silêncio do Fim, uma força que não destrói com fúria nem subjuga com terror, mas apaga com lentidão absoluta, como uma brisa morna que esfria a vontade até que ela cesse por completo. É a antítese da ação, da motivação e da urgência. Onde os outros pecados inflamam, corrompem ou dominam, Belphegor simplesmente faz tudo parar. Letum Quietus não explode, não ruge, não exige presença. Ele se insinua pelas frestas da alma. O ar ao redor de Belphegor torna-se mais denso, pesado, abafado, como o fim de uma tarde eterna. As mentes desaceleram. Os corpos hesitam. Os corações batem mais devagar. É como se o tempo decidisse que continuar seria um esforço desnecessário. Sob sua influência, soldados abaixam armas, magos esquecem palavras de feitiço, reis abandonam seus tronos. Não por medo, mas por cansaço súbito.
A besta, quando manifesta plenamente esse poder, suspende a vontade de agir de todos ao redor, criando uma zona de inércia onde ideias se tornam distantes e memórias adormecem. A luz parece perder força. Os sons se abafam. O que era urgente passa a ser adiado, e o que era importante parece irrelevante. Essa área de influência é chamada por alguns de Domínio do Cansaço Absoluto, onde até o mais inspirado dos heróis se questiona: “Por que continuar?” Letum Quietus também possui um aspecto corrosivo e mais sutil: ele devora motivação com o tempo, como uma neblina psíquica que se instala em mentes promissoras. Pessoas atingidas por esse poder, mesmo sem notarem, passam a abandonar projetos, distanciar-se de sonhos, evitar confrontos. Suas ideias perdem força. Seus vínculos esmaecem. Seus olhos perdem o brilho. E quando percebem, estão vivendo não porque querem, mas porque ainda não morreram. Mas o aspecto mais temido desse poder é o chamado Sopro do Retorno Estagnado — uma capacidade única de Belphegor de fazer com que tudo retorne ao ponto de inércia mais próximo. Um exército prestes a avançar pode simplesmente parar. Um mago no meio de uma conjuração volta ao silêncio. Um deus em fúria se cala. É um colapso da continuidade, um lembrete mágico e letal de que nada importa o suficiente para continuar.

​​informações adicionais
principio absoluto
Belphegor, em Midrel, é uma entidade esquecida não porque foi apagada — mas porque deixou de importar. Ela não precisa esconder-se dos deuses nem dos homens, pois seu domínio não desperta resistência. Sua influência se espalha nos vazios entre as grandes decisões, nas promessas feitas e nunca cumpridas, nos planos deixados para depois… e que se perderam no tempo. Dizem que Belphegor já foi uma entidade associada à inspiração criativa e à contemplação profunda, guardiã do silêncio fértil, da pausa entre os pensamentos, do respiro antes do salto. Mas quando o mundo passou a acelerar, exigindo que tudo fosse feito com urgência, ela se retirou, decepcionada, e se transformou naquilo que ninguém mais quis ouvir: a quietude que nunca.
Sua presença em Midrel é mais comum do que se imagina. Onde há civilizações paradas no tempo, palácios cujos senhores dormem cercados de servos imóveis, ordens arcanas que guardam segredos mas não os usam, Belphegor está presente. Ela habita as mentes dos que desistiram sem saber, dos que adiaram tanto que se esqueceram, dos que pararam por medo de fracassar — e passaram a fingir que nunca quiseram começar. Seus seguidores são chamados de Inertes, mas não são vagabundos ou desleixados. Muitos foram sábios, líderes, visionários, artistas — até o momento em que o peso de seus próprios ideais se tornou demais. Eles agora vagam pelo mundo como sombras lúcidas, conscientes daquilo que poderiam ter sido, mas sem vontade de retornar. Tornam-se mestres da neutralidade, do desinteresse, e, eventualmente, de uma serenidade fria e sem propósito. O símbolo de Belphegor é uma flor murcha presa no tempo, eternamente à beira de florescer, mas que jamais abre suas pétalas. Esse emblema é gravado em muralhas abandonadas, bibliotecas silenciosas, e templos onde os deuses pararam de ser cultuados — não por heresia, mas por esquecimento. Seu nome raramente é falado. Não por medo, mas porque ninguém se dá ao trabalho.