Echoterra é uma dimensão onde o silêncio absoluto não é apenas uma ausência de som — é uma força viva e onipresente. Ali, todo som é absorvido no momento em que é criado, devorado por um manto invisível que envolve o espaço e o tempo. Até mesmo os pensamentos parecem ecoar dentro da mente, reverberando como ondas em um lago sombrio. Essa dimensão foi forjada nos primórdios do multiverso, quando uma entidade conhecida apenas como Murmúrio decidiu retirar-se do tumulto da criação. Murmúrio moldou Echoterra como um refúgio para aqueles que desejavam escapar do peso do ruído — mas, ao fazê-lo, deu origem a um lugar onde o próprio conceito de "som" é uma heresia. As terras de Echoterra são compostas por vastos vales de névoa cinzenta, florestas de árvores petrificadas que emitem uma luz fria, e mares imóveis onde a água não se move nem faz barulho. As construções que pontilham o mundo — castelos de mármore negro, monolitos cristalinos — parecem abandonados, mas são na verdade santuários habitados por seres que se comunicam pela alma.
Governante Silencioso
Ninguém sabe ao certo como Surdariel nasceu. Alguns dizem que ele foi o primeiro som que existiu no início dos tempos — um sopro tímido, uma vibração frágil — que, cansado do ruído e da corrupção que o seguiram, desejou cessar. Assim, Surdariel se retirou do mundo visível e moldou Echoterra como um santuário onde o silêncio pudesse florescer absoluto. Surdariel não possui um corpo como os seres vivos conhecem. Ele se manifesta como uma presença translúcida e serena, com a forma vaga de uma figura.
limites do mundo MAR DE VIDRO
O Mar de Vidro, conhecido entre os poucos que sobreviveram a ele, é uma extensão infinita que repousa imóvel sob o céu desbotado de Echoterra. Não há vento para criar ondas, nem marés para perturbar sua superfície. O oceano parece um espelho perfeito, rígido e frio, refletindo não a imagem física de quem se aventura sobre ele, mas algo muito mais profundo: as memórias dos sons que definiram suas vidas. Cada passo sobre o Mar de Vidro é como um toque no tecido mais íntimo da existência. Quando alguém ousa caminhar sobre sua superfície, não se vê o próprio rosto refletido, mas momentos vibrantes de um passado quase esquecido — uma risada distante, o estalo da lareira numa noite de inverno, a música que embalava sonhos antigos, ou o último sussurro ouvido antes de uma perda. Essas visões flutuam sob o gelo translúcido, ondulando levemente como se tentassem emergir.
O Mar de Vidro, silencioso e impassível, tem uma fome sutil. Ele se alimenta daquilo que o viajante mais teme perder: suas memórias sonoras. A cada momento que se passa sobre ele, um fragmento de memória é puxado suavemente para dentro da superfície, onde se funde com as outras vozes, músicas e gritos que já foram capturados ao longo das eras. Assim, caminhar sobre o Mar não é apenas um teste de resistência física, mas um sacrifício da própria história sonora do ser. Há quem diga que nas zonas mais profundas do Mar de Vidro, ocultos sob quilômetros de superfície imóvel, repousam os ecos do Primeiro Som, o som original que antecedeu até mesmo o nascimento dos mundos. Guardando essas profundezas existem entidades conhecidas como Ancoras do Silêncio, seres de cristal vivo, sem rosto, que mantêm o equilíbrio entre o que deve ser esquecido e o que deve ser eternamente preservado. Poucos ousam atravessar o Mar. Menos ainda retornam com suas almas intactas. Aqueles que permanecem tempo demais sobre o gelo são consumidos lentamente. Perdem a memória dos sons — primeiro os mais distantes, depois os mais íntimos — até que se tornam Errantes Silentes, espectros que vagam sem rumo, incapazes de recordar até mesmo o som.
conhecimentos extras PROIBIÇAO SONORA
Em Echoterra, a Proibição Sonora não é apenas uma lei; é uma lei natural, tão inevitável quanto o próprio respirar em outros mundos. Desde o momento em que um viajante atravessa o limiar desta dimensão, todas as manifestações de som — do mais estrondoso trovão ao mais sutil suspiro — são anuladas de maneira instantânea, como se fossem arrancadas da realidade antes mesmo de nascerem. Não existe grito, música, palavra ou eco que possa sobreviver ao Véu do Silêncio que envolve Echoterra. Qualquer tentativa de criar som é sufocada na origem. Um trovador que tente tocar sua lira verá as cordas vibrarem em silêncio; um guerreiro que bata sua espada contra o escudo não ouvirá nem o mais leve tilintar. Mesmo os pensamentos que carregam intenções ruidosas — como a lembrança de uma canção ou o desejo de gritar — são abafados, forçando todos que aqui vivem ou vagam a uma comunicação feita somente por gestos, olhares ou emoções puras dos usuários.
Esta proibição não é imposta por guardas ou decretos visíveis. É um efeito automático, incorporado à própria essência de Echoterra, moldado pelas vontades silenciosas de Surdariel, o Soberano do Silêncio. A dimensão sente o intento de gerar som e reage de forma reflexiva, eliminando a vibração antes que ela sequer possa ganhar forma. É como se o mundo inteiro respirasse contra o barulho, rejeitando-o com uma suavidade tão poderosa que chega a ser opressora. Para muitos viajantes, a ausência absoluta de som pode ser enlouquecedora. Sem o ruído dos próprios passos, sem o sussurro do vento, sem o conforto da própria voz, a mente começa a preencher o vazio com ecos imaginários — lembranças de ruídos antigos que, pouco a pouco, se tornam irreconhecíveis e alienígenas. Há relatos de almas que, incapazes de suportar a falta de som, dissolveram-se mentalmente, tornando-se parte das paisagens estéreis de Echoterra. Diz-se também que a única maneira de "falar" dentro de Echoterra é através da Vibração Anímica, uma prática ancestral que poucos dominam, onde sentimentos puros são transmitidos diretamente de espírito para espírito.
ACESSO AO MUNDO portoes DO silencio
Em meio às brumas eternas que antecedem o Mar de Vidro, erguem-se os Portões do Silêncio — duas estruturas colossais esculpidas em uma pedra tão antiga e apagada que parece ter sido arrancada das entranhas do primeiro vazio. Eles não são apenas a entrada para Echoterra: são o último limiar onde o som, ainda frágil e cambaleante, agoniza antes de ser eternamente extinto. Os Portões são altos demais para que olhos mortais alcancem seu topo. Suas faces estão marcadas por relevos sutis, cenas de batalhas sem gritos, celebrações sem risos, lamentos sem vozes. A pedra em si emana uma pulsação suave, como o último bater de um coração moribundo. Aproximar-se deles é sentir o peso de todos os sons esquecidos da existência pressionando o espírito, como uma mão invisível.
Quando um viajante se aproxima, o ar se torna espesso e imóvel. A respiração parece mais pesada, os batimentos do próprio coração soam abafados, e até mesmo o pensamento consciente desacelera, como se a própria mente hesitasse em cruzar aquele limiar. Não há sentinelas, nem guardas visíveis. Apenas a percepção crescente de que os Portões ouvem cada emoção, cada intenção, cada vestígio de ruído que o viajante traz consigo — e que julgam silenciosamente se permitirão sua passagem. Os Portões não se abrem como portas comuns. Eles desvanecem lentamente, como névoa antiga ao amanhecer, permitindo que o viajante seja envolvido pela quietude viva de Echoterra. Aqueles que tentam forçar a passagem ou carregar sons muito vibrantes em seus corações sentem-se imediatamente esmagados por uma pressão invisível, como se o mundo inteiro estivesse tentando apagá-los. Muitos caem de joelhos, com lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto, incapazes de suportar a transição. Segundo as lendas murmuradas através da Vibração Anímica, os Portões do Silêncio foram esculpidos pelas próprias mãos de Surdariel, o Soberano do Silêncio, na alvorada de Echoterra. Dizem que, com cada golpe invisível que moldava a pedra, Surdariel absorvia uma parte dos sons do mundo exterior — risos, canções, gritos, orações — trancando-os para sempre dentro das muralhas dos Portões. Assim, eles não são apenas entrada: são também prisão para todos os ecos que um dia ousaram desafiar o Véu Silente.
