​​besta divina
ENNURAK
Ennurak é uma besta divina associada ao fim de legados, à devoração da lembrança e à eternidade dos ossos. Conhecido como o Corvo de Ossos, ele voa não pelos céus comuns, mas pelos cemitérios do tempo — regiões onde deuses foram esquecidos, heróis abandonados e eras inteiras apagadas da memória dos planos. Sua função não é matar, mas consumir aquilo que resta de uma existência depois que tudo já se perdeu, especialmente nomes, símbolos, promessas não cumpridas e títulos que já não têm peso. Seu corpo é feito inteiramente de ossos colossais, costelas de titãs mortos, vértebras de seres extintos, e crânios de criaturas nunca registradas. Cada batida de suas asas ressoa como o som de eras ruindo, e seus olhos brilham como cavernas acesas por dentro, de maneira geral.
​Ennurak não canta. Ele murmura, e esses murmúrios sussurram nomes que o ouvinte esqueceu, mas que o mundo ainda guarda — nomes verdadeiros, pactos enterrados, segredos de infância, títulos ancestrais. Aqueles que o escutam muitas vezes enlouquecem ou caem de joelhos, pois percebem que carregam fardos que achavam ter abandonado, mas que a terra ainda reconhece. Ele aparece em campos de batalha onde a glória foi esquecida, em túmulos não honrados, em ruínas cujos nomes foram riscados dos mapas. Onde Ennurak pousa, a história se apaga, e o que resta são ossos… e um silêncio que pesa. ​Há tíbias de dragões fundidas a clavículas humanas, crânios de gigantes integrados às costelas de arcanos extintos.

​características da besta
conhecimento geral
Cada batida de suas asas — formadas por hastes ósseas cobertas por penas translúcidas como teias de lembrança esquecida — move o ar em ondas surdas, fazendo o ambiente vibrar com memórias antigas. Ele não voa com rapidez, mas com imponência: seu voo não é aéreo — é temporal, e o espaço por onde passa parece mais velho depois. As nuvens escurecem, o chão perde o brilho, as flores murcham. O mundo se curva discretamente à sua presença, não por terror, mas por respeito involuntário. Sua cabeça é alongada, com um bico feito de ossos fundidos que não abre para bicar, mas para liberar os sussurros — vozes que saem em fragmentos, como palavras partidas de mil bocas. O som que vem de sua garganta não é físico, mas mental: uma comunicação direta com a culpa.
Seu torso é oco e ressoa como um tambor funerário. Dentro dele, pode-se ouvir vozes ecoando — vozes que não pertencem ao presente. Algumas são de deuses caídos, outras de soldados sem nome, outras… de quem ainda vive, mas que já foi esquecido. Dizem que cair dentro do corpo de Ennurak é ser apagado da memória do mundo, não como castigo, mas como liberação. Suas garras são afiadas, feitas de metacarpos e vértebras torcidas, capazes de agarrar memórias, não apenas matéria. Com elas, ele pode capturar títulos, lealdades, linhagens e símbolos, arrancando-os da alma de alguém e deixando apenas o corpo vivo, vazio de passado. ​Mas a característica mais perturbadora de Ennurak é sua sombra: ela não o acompanha — ela o antecede. É comum que sua silhueta cruze os campos horas.

status
Não-Domável

habitat
indefinido;

altura
indefinido;

comprimento
indefinido;

peso
indefinido;

dificuldade
★★★★★

​poder da besta
desnomeação
O poder de Ennurak é o de consumir significado, de devorar não apenas o corpo e a alma, mas tudo aquilo que dá identidade a uma existência. Onde ele pousa, nomes são esquecidos, brasões se tornam poeira, canções que o mencionam desaparecem dos pergaminhos e até orações perdem a rima. Ele é a encarnação do esquecimento absoluto — mas não o esquecimento inconsequente, e sim aquele que encerra o que já durou demais. Seu poder primário é chamado de Desnomeação. Ennurak pode, com um toque de suas garras ou o sussurro de seu bico, arrancar o nome verdadeiro de um ser ou objeto, apagando não apenas a memória dele nas mentes ao redor, mas sua própria capacidade de manter coesão existencial. Criaturas que perdem seus nomes ficam invisíveis aos olhos do mundo.
Em campo de batalha, Ennurak não precisa lutar — ele remove o motivo da luta. Soldados esquecem por que estão ali. Conjuradores não conseguem lembrar o nome das magias. Armas caem das mãos por não serem mais reconhecidas como parte do guerreiro. Ele impõe uma zona de apagamento narrativo, onde toda continuidade é interrompida. Ele não quebra a lógica — ele a fecha. Se provocado, Ennurak pode liberar o Voo da Rememória, um movimento onde ele se ergue aos céus e gira em espiral, espalhando sobre o campo uma névoa feita de partículas de osso. Essas cinzas, ao tocarem seres vivos, fazem com que eles revivam todas as vidas que já perderam: identidades anteriores, promessas esquecidas, dores ancestrais.

​pontos fortes e fracos
CONFRONTANDO A BESTA
No vasto e selvagem mundo das criaturas, todas as bestas — das mais humildes às mais colossais — carregam em si tanto poder quanto limitação. Nenhuma é invencível, pois cada uma foi moldada pelas forças naturais, mágicas ou divinas que lhes deram origem, e essas mesmas forças impõem um equilíbrio inevitável. Se uma besta domina o fogo, ela pode ser vulnerável ao silêncio ou à ausência de oxigênio. Se carrega uma couraça impenetrável, talvez sua mobilidade seja lenta, ou seus olhos incapazes de enxergar em ambientes de pura luz. Se voa entre as tempestades, talvez não suporte a gravidade das profundezas.

pontoS forteS

Ennurak é invulnerável a qualquer forma de ataque que dependa de identidade, definição ou reconhecimento. Magias que exigem nomes verdadeiros, palavras de poder, ou vínculo com linhagens ou essências simplesmente falham em sua presença — pois ele rompe o elo que liga as coisas àquilo que as define. Ele não pode ser selado por runas, pois as runas se apagam. Não pode ser banido por contratos, pois ele devora o pacto. Sua presença em campo cria um campo de silêncio histórico, onde os feitiços que dependem de legado, memórias, ou narrativa (como invocações, ressurreições, encantamentos herdados e maldições de sangue) se desintegram antes de se completarem. Ennurak também é resistente a qualquer forma de manipulação mental ou espiritual.

PONTOS FRACOS

Ennurak, apesar de imensamente poderoso, não resiste bem à lembrança intencional. Ambientes onde a memória é sagrada, como bibliotecas vivas, monumentos encantados para preservar história, ou regiões protegidas por votos coletivos de nunca esquecer, reduzem sua influência drasticamente. Quando cercado por nomes que são repetidos com convicção, ele hesita — pois o ato de lembrar em uníssono é o único que desafia sua natureza. Rituais de restauração, que envolvam declaração de nomes verdadeiros, reconstrução de árvores genealógicas, ou juras feitas em círculos de herdeiros legítimos, criam zonas onde ele não pode entrar — pois o nome, enquanto for mantido vivo por escolha consciente, se torna uma chama que ele não apaga.

​​recompensas da besta
premio de consolação
No coração do desconhecido, além do medo e do fascínio que as bestas despertam, existe um outro motivo pelo qual tantos ousam enfrentá-las: as recompensas. Cada besta carrega em si algo único, precioso e, muitas vezes, inatingível por qualquer outro meio natural. Seja um fragmento de sua essência, um mineral que só cresce sobre seu dorso, ou uma glândula que destila poder ancestral, as bestas são fontes vivas de relíquias, materiais raros e segredos perdidos. ​Essas recompensas não são simples espólios de batalha — são partes do mundo que não podem ser encontradas em minas, lojas ou bibliotecas.

pena de silêncio

​Uma pena óssea retirada das asas de Ennurak, envolta em resquícios de sua aura. Ao ser carregada, impede que o portador seja identificado por magias de localização, leitura de mente, rastreamento espiritual ou qualquer forma de adivinhação baseada em nome ou histórico. Em rituais, pode ser queimada lentamente para selar memórias específicas de um alvo, fazendo com que esqueça uma promessa, um nome, ou um trauma, como se nunca o tivesse vivido. Usada com sabedoria, pode salvar; com malícia, pode apagar.

garra do nome

Um fragmento de garra de Ennurak, envolta por inscrições ausentes — marcas que nenhuma língua consegue decifrar. Quando incorporada a uma arma ou artefato, concede ao portador a capacidade de anular encantamentos baseados em linhagem, título ou vínculo espiritual. Se usada contra um alvo que carrega um nome sagrado, amaldiçoado ou heráldico, a garra rasga a essência da identidade, enfraquecendo o alvo drasticamente por breves instantes. Em rituais, serve para interromper a transmissão de um legado, encerrando maldições familiares ou selos herdados

crânio da ultima vez

Um pequeno crânio de criatura indeterminada, deixado no centro onde Ennurak foi derrotado. Quando segurado, permite ao usuário invocar um eco da última verdade dita por qualquer alma que tenha perecido no local. Essa invocação dura apenas alguns segundos e pode revelar segredos, palavras de amor, segredos imperdoáveis ou confissões. Em rituais fúnebres, o crânio pode ser usado para libertar espíritos presos pela ausência de sepultamento adequado, encerrando seus ciclos e concedendo descanso final. No entanto, seu uso constante enfraquece as barreiras da mente, pois o silêncio eterno sempre deseja voltar a sussurrar.