deus das tempestades
|
|
conhecendo a divindade
|
Iskadra não é apenas o deus das tempestades em Cahaen; ele é o próprio Mestre da Tempestade, o artífice supremo do caos atmosférico, aquele que modela o vento e a fúria com a destreza de um escultor esculpindo sua obra-prima em gelo e ar. Onde outros deuses comandam aspectos fixos ou forças previsíveis, Iskadra é o senhor daquilo que não se prende a forma alguma, daquilo que escapa, se desfaz e se reconstrói com violência a cada instante. Como Mestre da Tempestade, ele não apenas convoca as nevascas: ele orquestra a dança selvagem das correntes de ar, das rajadas cortantes e das explosões de gelo em suspensão. Sua tempestade não é um acidente natural, mas uma expressão estética e consciente de sua vontade — um espetáculo grandioso e terrível, onde cada redemoinho, cada estalo de trovão e cada agulha de gelo lançada pelo vento.
Aqueles que contemplam uma tempestade de Iskadra não a descrevem como um fenômeno, mas como uma presença que domina completamente os sentidos e a paisagem, obliterando a linha entre o mundo físico e o espiritual. Seu domínio absoluto sobre o céu e o vento faz com que até os mais veteranos navegadores e caçadores saibam que não se pode prever, resistir ou dominar a tempestade — apenas reconhecer a majestade de quem a comanda. Entre os povos de Cahaen, Mestre da Tempestade é um título pronunciado com reverência e temor. Invocar Iskadra sob essa designação é reconhecer sua supremacia sobre todas as forças em movimento, admitir que não há criatura, homem ou deus que possa desviar o curso de uma fúria que foi deliberadamente liberada. Não é uma força cega, mas uma vontade lúcida que elege o momento e o lugar para desabar com toda sua potência. Os xamãs e sacerdotes que buscam se aproximar de Iskadra não o fazem suplicando piedade, pois sabem que ele não oferece clemência. Eles se submetem à tempestade como se entrassem em uma forja divina, onde o frio e o vento arrancam as partes frágeis da alma, até que reste apenas aquilo que é suficientemente resistente para sobreviver ao seu olhar invisível.
|
limites da criação
|
Iskadra, o Mestre da Tempestade, carrega nas veias a herança primordial do trovão e da fúria, pois é descendente direto de Thor, o deus das tempestades e dos trovões das antigas eras. De acordo com as lendas mais ocultas de Cahaen, antes mesmo da formação dos Seis Gelos Eternos, Thor, o Martelo Celeste, cruzou as fronteiras do mundo conhecido, enfrentando o frio absoluto que já se insinuava nos confins do norte, onde o gelo não conhecia degelo e o céu permanecia perpetuamente cinzento. Diz-se que, durante uma de suas jornadas, Thor enfrentou e venceu uma entidade antiga e gélida que ameaçava expandir o inverno para todos os reinos, mas não sem deixar parte de sua própria essência misturada com as forças incontroláveis.
Dessa união improvável entre o calor do trovão e a frieza do gelo primordial nasceu Iskadra, forjado não como um filho no sentido mortal, mas como um herdeiro espiritual e cósmico, uma extensão das forças violentas que moldam o mundo e o céu. Assim, Iskadra não herdou de Thor apenas o poder do trovão, mas o caráter tempestuoso, a indomabilidade e a vocação para o caos. Se Thor personificava o estrondo que rompe os céus, Iskadra é a corrente contínua que destrói e reconstrói, que sopra através das montanhas como um legado inquebrantável do poder ancestral. Diferente do pai, que empunhava o martelo como instrumento de guerra e justiça, Iskadra abandonou o uso de ferramentas, preferindo ser ele mesmo a arma, o redemoinho, a lâmina invisível de vento e gelo que corta, fere e apaga. Os antigos xamãs de Cahaen ensinam que o sangue de Thor ainda pulsa, de forma rarefeita e fria, no coração etéreo de Iskadra, e que é por isso que, mesmo em meio à tempestade mais furiosa, às vezes se pode ouvir, perdido entre os uivos do vento, um estalo seco e profundo — não o trovão que Thor outrora comandava, mas um eco longínquo da força que lhe deu origem. Ser descendente de Thor não faz de Iskadra um ser mais humano, ou mais compassivo; ao contrário, reforça nele a natureza inexorável e inevitável da tempestade divina.
|
Passos finais
|
Iskadra, o Mestre da Tempestade, não é apenas um deus entre os Seis Gelos Eternos — ele é filho bastardo de Sovas, o Pai dos Deuses Supremos, a fonte primordial de toda divindade, o primeiro sopro criador e a consciência que moldou os alicerces cósmicos de Cahaen e dos mundos além. Nascido do próprio espírito indomável de Sovas, Iskadra representa uma das manifestações mais intensas e perigosas da vontade criadora: a força que não conhece limites, que se lança ao mundo para despedaçar e renovar. De acordo com as lendas mais antigas, Sovas, ao contemplar a vastidão do caos e da matéria informe, viu que a eternidade não poderia repousar apenas na estabilidade, mas que precisaria também do movimento, do ciclo de destruição e transformação que impede que a criação apodreça sob o peso.
Assim, ao erguer as montanhas, ao derramar os mares e ao congelar o norte sob a presença imobilizadora de Njolfr, Sovas insuflou uma outra parte de si no mundo: um sopro impetuoso e livre, um fragmento de sua essência que jamais aceitaria repouso ou contenção. Dessa partícula do espírito divino, envolta pelos ventos primordiais e pela frieza dos confins do mundo, nasceu Iskadra, filho direto de Sovas, forjado para ser a tempestade consciente que sopra entre os pilares do mundo. Sua natureza não é apenas caótica; é necessária, pois sem ele as criações de Sovas permaneceriam imóveis e inflexíveis, como Njolfr desejaria. Iskadra, então, foi moldado como o equilíbrio impiedoso, a certeza de que tudo o que Sovas fez pode, deve e será transformado. Mas diferentemente de outros deuses filhos de Sovas, Iskadra não carrega em si o fardo do governo ou da administração dos ciclos da vida e da morte; ele não cuida dos mortais, não impõe ordem, não responde a orações. Ele é a vontade bruta e imediata do Pai Supremo, aquela que se manifesta como vento que fere, neve que cega, gelo que rompe. Em sua presença, não há negociações, não há pactos: há apenas a lembrança do poder original de Sovas, que cria sem pedir permissão e desfaz sem oferecer explicações.