​​VIRTUDE DA diligência
​SAMAEL
Samael, em Midrel, é uma entidade de vasto mistério, temida e reverenciada em igual medida, pois sua essência carrega a dualidade sagrada entre destruição e justiça, entre queda e missão, entre condenação e revelação. Diferente dos outros seres celestiais ou infernais, Samael caminha nas bordas da Criação, nem anjo, nem demônio — mas algo entre os dois, aquele que foi enviado para executar o inevitável. Chamado por muitos nomes — O Anjo da Morte, A Mão do Fim, O Acusador Silencioso —, Samael é aquele que vê aquilo que deve ser encerrado e corta sem hesitação, não por crueldade, mas porque entende que a vida precisa de fim, que a corrupção exige limite, e que a Criação não pode crescer sem ruptura. ​Seu nome, traduzido por alguns como Veneno de Deus, não é literal, mas simbólico. 
Samael não traz veneno no sentido de impureza, mas como o antídoto brutal contra tudo que estagna ou trai o fluxo divino. Ele é a lâmina fria que separa o falso do verdadeiro. Ele é o olho que não fecha. O executor que não teme ser odiado — porque sabe que sua tarefa é sagrada, mesmo quando parece monstruosa. Sua forma é ao mesmo tempo angelical e severa: veste um manto negro com detalhes em vermelho profundo, como sangue coagulado que se recusa a cair. Asas de cinza opaco e bordas queimadas se estendem de suas costas, e sua face — quando visível — é austera, esculpida com traços perfeitos e olhos sem pupilas, como espelhos. Ele não sorri. Ele compreende. Sua presença faz a alma lembrar de tudo que adiou, de tudo que evitou.

​características da besta
conhecimento geral
Samael, em Midrel, carrega características que transcendem a definição de “besta” — pois ele não pertence ao panteão dos anjos comuns nem às hostes demoníacas inferiores. Ele é uma entidade limiar, um executor primordial que habita o espaço entre a obediência e o castigo, entre o julgamento e a extinção. Sua presença não se define por luz ou trevas, mas por inevitabilidade. Sua forma física é enigmática, sempre em estado de mutação contida. Em sua manifestação mais reconhecível, Samael se apresenta como uma figura de proporções humanas, porém desprovida de calor vital: sua pele é pálida como mármore antigo, com traços simétricos e impecáveis, belos demais para parecerem vivos. Seus olhos são completamente prateados ou negros, sem reflexo, sem expressão, como se espelhassem o vazio deixado por cada sentença cumprida. Há uma frieza ancestral em seu semblante — não de crueldade, mas de distanciamento.
Suas asas são o traço mais marcante: gigantescas, de plumagem cinza-escura, com as pontas queimadas e desfiadas, como se tivessem atravessado mundos em ruínas. Quando abertas, não provocam vento nem calor — provocam silêncio, como se o som tivesse sido retirado da realidade para escutar a presença de algo que não deve ser interrompido. Samael veste um manto longo, sem adornos, escuro como o fundo de um poço sem fim. Ele carrega em uma das mãos uma lâmina simbólica, chamada Veredictum, que não fere o corpo — mas separa a alma de tudo aquilo que a contamina, desfazendo vínculos corruptos, maldições ancestrais ou pactos impuros. A lâmina não sangra. Ela cala.
Apesar de sua aparência calma, há em Samael uma pressão espiritual imensa: onde ele pisa, o tempo parece desacelerar; emoções se tornam nítidas, mentiras perdem força, máscaras caem. Criaturas impuras não suportam sua presença — não porque ele as ataca, mas porque a própria verdade de quem ele é as faz colapsar.  Samael não sente desejo, vaidade ou prazer. Tudo nele é instrumento. Tudo nele é função. Ele não deseja punição — ele realiza encerramentos. Sua voz, quando ouvida, é grave e sem entonação, como uma sentença já escrita sendo apenas pronunciada. Ele não conversa. Ele declara. ​Samael não se apresenta a quem não está pronto para encarar o fim. Ele jamais aparece por engano, jamais age por impulso. Apenas quando a Criação exige conclusão — e ninguém mais tem coragem.

​pacto angelical
juramento de ruptura
O Pacto Angelical com Samael, em Midrel, não é um pacto de bênçãos — é um juramento de ruptura. Ele não é selado para obter cura, proteção ou glória. Ele é buscado quando o mundo precisa ser cortado para continuar existindo. O pacto com Samael não transforma o pactuado em salvador — o transforma em instrumento do fim necessário, em executor do silêncio, em catalisador daquilo que não pode mais ser adiado. Esse pacto só pode ser feito por aqueles que já encararam a falência de sistemas, de dogmas, de vínculos ou de si mesmos. Não se realiza com oferendas, mas com uma decisão final: quando alguém abandona toda esperança de reforma e clama por encerramento — não por vingança, mas por justiça crua, sua forma de poder absoluto.
O ritual ocorre sempre em solidão. Ao pé de uma ruína, diante de um cadáver sem sepultura, ou no limite do esgotamento espiritual. E quando a súplica é feita sem fingimento, com a alma nua e o desejo de ver o fim chegar sem piedade, Samael surge, não com fogo, mas com presença inevitável. Ele não pergunta se há certeza. Sua aparição já é a resposta. Ao selar o pacto, o ser recebe o dom chamado "Oculus Ultima", o Olho do Fim, que lhe permite ver — com clareza cruel — o que precisa ser encerrado, mesmo que doa, mesmo que destrua, mesmo que seja amado. Pactuados de Samael são capazes de discernir laços falsos, ciclos decadentes, corrupções veladas e destinos desviados. Eles enxergam o ponto final — e caminham em direção a ele.  Mas o pacto não concede alegria, nem consolo. Ele exige coragem brutal. O pactuado nunca será amado por multidões. Muitas vezes será odiado, temido, ou esquecido. Mas sempre será necessário. E Samael o acompanhará em silêncio — não como mestre, mas como sombra. Se esse poder for usado por orgulho, ego ou sadismo, o pacto se desfaz instantaneamente — e Samael levará a alma do traidor com ele, sem julgamento, apenas como consequência. Então Samael não o abandonará.
E quando sua jornada terminar, ele próprio o conduzirá até o limiar final... onde os que encerraram com honra descansam no silêncio puro, o que pode ser bem útil em seus caminhos.

​poder da besta
verdade cortante
O poder de Samael em Midrel, conhecido como Severum Veritas, é a manifestação final da verdade que corta, encerra e silencia. Ele não se manifesta com gritos ou chamas, mas com a presença inevitável do fim. Quando Samael ativa seu poder, o mundo ao redor parece desacelerar, como se o próprio tempo segurasse a respiração para testemunhar o que está por vir. Nenhuma ilusão resiste. Nenhuma mentira permanece de pé. Sua força atravessa a alma antes do corpo, não para destruí-la, mas para expor tudo aquilo que já devia ter cessado — laços impuros, pactos envenenados, memórias viciadas, ciclos de dor mantidos pela teimosia do orgulho. A lâmina que ele empunha não corta carne. Ela fende vínculos. Quando ele desfere seu golpe, não há sangue — há silêncio. 
Um corte no tecido espiritual que desfaz possessões antigas, separa almas fundidas à força, desfaz magias corrompidas que resistiram à razão e encerra a permanência do que já ultrapassou o tempo de existir. O toque de Severum Veritas faz com que entidades parasitas apodreçam sem som, que pactos demoníacos se desfaçam em faíscas pálidas, e que nomes antigos sejam arrancados do tecido da realidade. No auge de seu poder, Samael convoca o Espelho Final. Nele, qualquer ser é forçado a encarar sua essência pura, sem véus, sem autoengano. O reflexo mostra não apenas quem a pessoa é, mas o que se tornou — e muitos, ao encarar esse reflexo, enlouquecem ou imploram por esquecimento. Aqueles que aceitam o que veem podem ser libertos, mas os que recusam a verdade do que são... tornam-se parte do que Samael precisa apagar. Seu poder não existe para punir, e sim para restaurar o equilíbrio pela eliminação do que impede o fluxo. Samael não age sem propósito. Ele não aparece quando há dúvida. Ele só vem quando o mundo já pediu, ainda que em silêncio, por alguém que tenha a coragem de pôr fim no que ninguém mais ousa terminar. Ele não destrói por ódio. Ele encerra porque é necessário. E onde sua lâmina passa, só permanece o que é digno de continuar existindo. ​E ao usar Severum Veritas, ele não sente glória nem tristeza. Apenas cumpre. Seu semblante permanece imóvel, como se cada execução fosse uma vírgula num texto sagrado que ele foi incumbido de completar. E cada vida tocada por sua lâmina deixa um rastro invisível — não de dor, mas de clareza.

​​informações adicionais
principio absoluto
Samael, em Midrel, é uma entidade que rompe as divisões confortáveis entre o bem e o mal. Ele não é anjo para ser adorado, nem demônio para ser temido no escuro — ele é a presença inevitável do encerramento divino, o executor da última linha escrita no livro das coisas que não podem mais permanecer. Nas escrituras ocultas dos magos de Irm-Hareth, ele é chamado de "A Sombra do Último Suspiro", pois é dito que Samael não chega quando se clama por ele — mas quando o silêncio se torna mais verdadeiro do que qualquer oração. Ele não atende vontades. Ele escuta o clamor da Criação. E só aparece quando algo — uma alma, uma aliança, um império — já deixou de merecer continuar.
Samael carrega o título de Juiz Invisível, pois em sua presença todos os seres sentem, no íntimo, o que são. E não há como esconder. Aqueles que o enfrentam com orgulho têm os próprios gritos devorados pela gravidade da verdade que ele emana. Aqueles que o invocam com vaidade ou falsidade são abandonados antes de falar a última palavra. Samael não pune por ofensa — ele se ausenta. E essa ausência, por si só, já é um castigo impossível de suportar. Seu nome é raramente pronunciado entre os celestiais. Mesmo os arcanjos o tratam como um agente à parte — um necessário, não um igual. Pois Samael carrega sobre si o fardo de fazer o que nem o trono ousa ordenar diretamente. Ele corta o que os deuses hesitam desfazer, e por isso, caminha sozinho, sem coroa, sem seguidores, sem canções. Seus rastros aparecem nos lugares onde o fim foi bem-vindo. Em campos de guerra onde o último golpe poupou os que estavam presos no tormento. Em pactos desfeitos antes de consumirem o mundo. Em prisões espirituais que ruíram quando alguém, enfim, aceitou que era hora. Ele não deixa bênçãos — deixa espaço. E nesse espaço, a Criação pode recomeçar. Aqueles que conseguem firmar um pacto com Samael — e sobreviver à revelação que ele impõe — tornam-se seres silenciosos, firmes, carregadores de decisões impossíveis. São chamados de Cortadores de Ecos, porque sua função não é matar, mas cortar os ecos de dores, vínculos e corrupções que ainda reverberam no mundo mesmo depois de terem sido esquecidos.