​​pecado da luxuria
sitri
Sitri, o Pecado da Luxúria em Midrel, é uma entidade infernal sem sexo definido, moldada não por um corpo fixo, mas pelo desejo não nomeado que vive dentro de todos os seres. Sitri não representa o prazer carnal direto ou a volúpia vulgar — representa o desejo em sua forma mais pura e primitiva: a necessidade de ser visto, tocado, desejado, reconhecido, mesmo que por um instante apenas. Ele é o reflexo vivo da carência, da atração magnética que não precisa de toque, apenas de presença. ​Sua forma é fluida. Para alguns, surge como uma figura andrógina de beleza impossível, com olhos feitos de espelhos líquidos que devolvem à alma o que ela mais gostaria de enxergar em si mesma. Para outros, aparece como uma presença invisível que caminha atrás da nuca, respirando junto, moldando os pensamentos em fantasias.
Em Midrel, Sitri é invocado nos bastidores: entre lençóis de seda, em máscaras de festivais, nas danças em que os corpos se tocam sem nomes. Mas também nos olhares entre rivais, na obsessão do artista pela perfeição, no vício do paladino pela adoração do povo. A luxúria que Sitri representa vai além do corpo — ela envolve alma, poder, imagem, necessidade de ser desejado acima de todos os outros. Não é amor, nem paixão. É a fome de influência sensorial. A vontade de controlar através da atração, mesmo quando não se tem intenção de retribuir. Seus seguidores são chamados de Insinuados, indivíduos que podem vestir qualquer identidade e caminhar por qualquer ambiente, pois sua presença molda a percepção dos outros. 

​características da besta
conhecimento geral
Sitri, em Midrel, é uma das entidades mais perigosas e incompreendidas entre os Grandes Pecados. Como manifestação absoluta da Luxúria Primordial, Sitri não se limita ao campo do desejo físico — ele é o vórtice central de toda forma de atração, a fome instintiva por ser desejado, admirado, reconhecido ou possuído. Seu nome é sussurrado entre véus e máscaras, mas também nos pensamentos solitários dos poderosos que desejam controle, nos artistas obcecados por aplausos, nos magos que encantam multidões não com feitiços, mas com a voz. Sitri não possui forma estável, pois sua essência é feita daquilo que os outros desejam ver. Ao olhá-lo, cada criatura percebe algo diferente: um rosto impossível de esquecer, um corpo que sugere perfeição, uma voz que reverbera dentro do peito.
Mas nada disso é real. Sitri não é a aparência — ele é a reação provocada pela presença. Seus olhos são poços líquidos de reflexos vivos, não com íris, mas com imagens mutáveis de tudo o que o observador mais deseja. Aqueles que os encaram por tempo demais começam a esquecer o que amavam, e passam a amar apenas o ato de desejar. Ao contrário de outras bestas demoníacas, Sitri não precisa corromper por força ou manipulação. Ele apenas existe, e sua existência já é uma pergunta que o mundo não sabe responder. Por que desejamos o que não temos? Por que ansiamos ser o centro do olhar? Sitri desperta esse buraco interno, e em silêncio o preenche com a própria essência. Mas o que é preenchido não sacia — apenas abre espaço para mais. Não há relatos de batalhas diretas contra Sitri. As poucas vezes que sua presença se manifestou no mundo físico, exércitos abandonaram armas para seguir seus reflexos, reis abdicaram para seguir vozes que só eles ouviam, e templos ruíram não por ataque, mas por decadência interna, enredados em paixões impossíveis. Ele não exige servidão. Ele desperta obsessão. E nessa obsessão, a alma se contorce até se tornar parte do próprio ciclo de desejo eterno que o alimenta. Sitri habita uma dimensão oculta entre os véus de Midrel, chamada de Névoa dos Espelhos, um espaço onde não há chão fixo, nem tempo linear. Tudo é sensação. Figuras dançam sem nomes, olhares cruzam sem descanso, e o que se quer está sempre próximo — mas jamais tocado. Aqueles que entram nessa névoa em busca de poder ou revelação, acabam encontrando versões idealizadas de si mesmos, esquecem para sempre. A luxúria aqui não é prazer: é afogamento em fascínio.

​pacto demoníaco
desejo infernal
O Pacto Demoníaco com Sitri, em Midrel, é um dos mais sutis e perigosos entre todos os acordos infernais. Diferente dos pactos selados com sangue ou dor, o de Sitri não começa com um pedido — mas com um olhar. Ele se inicia no instante exato em que alguém, mesmo em silêncio, deseja ser desejado a qualquer custo. Não pela reciprocidade, mas pela necessidade crua de ser visto, lembrado, amado ou adorado. É nesse momento que Sitri se insinua, como um perfume na alma, como um toque que não aconteceu, mas que o corpo jura ter sentido. ​Sitri não aparece com promessas ou ofertas diretas. Ele surge no reflexo de um espelho, no suspiro vindo do nada, nos olhos de alguém que nunca te olhou antes. O pacto é gradual, delicioso e envenenado, pois parece apenas uma fase, um despertar, uma elevação da presença. Mas com o tempo, o pactuado percebe que o mundo começa a responder ao seu desejo de ser desejado. Olhares o seguem. Vozes se rendem. Portas se abrem. A presença se torna um palco constante.
A assinatura do pacto não é um gesto ou uma palavra. É o momento em que o pactuado percebe que não quer mais perder aquilo que Sitri despertou nele — a influência, o fascínio, o controle emocional que surge não por força, mas por desejo alheio. Ao aceitar essa necessidade, o elo se forma. A partir daí, Sitri passa a habitar entre os pensamentos e os impulsos do ser, orientando sutilmente seus gestos, seus tons de voz, sua forma de se mover. A alma se torna uma encenação viva do que os outros mais querem — e ao mesmo tempo, do que jamais poderão ter por completo. O dom que Sitri oferece é conhecido como Vox Desiderium, a Voz do Desejo. Com ele, o pactuado pode encantar, influenciar e seduzir com uma facilidade sobrenatural. A atração que provoca não é carnal apenas — ela é total: visual, emocional, intelectual, espiritual. O pactuado pode entrar em um templo e fazer clérigos duvidarem da fé. Pode estar entre inimigos e ser poupado sem razão. Pode reinar sem trono, apenas com a presença. Mas há um custo. Quanto mais forte se torna o pacto, mais difícil é para o pactuado manter vínculos reais. Ninguém mais o vê como ele é — apenas como desejam que ele seja. O amor verdadeiro morre, substituído por obsessões. A amizade desaparece, sufocada pela idealização. Até o próprio pactuado se perde, esquecendo quem era antes de se tornar tudo para todos. E um dia, ao encarar o espelho, verá não a si mesmo, mas a imagem moldada por mil desejos alheios — bela, perfeita.

​poder da besta
laço do desejo
O poder de Sitri, em Midrel, é conhecido como Vinculum Desiderium, o Laço do Desejo, uma força ancestral que não controla o corpo nem a mente, mas sim o espaço entre os dois — aquele ponto tênue onde a vontade se transforma em atração, onde o olhar se prende, onde a intenção vacila. Sitri não impõe obediência. Ele provoca fascínio absoluto, gerando uma dependência invisível, mas avassaladora, que cresce como perfume em brisa quente. Vinculum Desiderium se manifesta como uma aura envolvente, impossível de ser definida com precisão. Ela não brilha, não pulsa, não ruge — ela convida. Ao estar sob a influência desse poder, criaturas sentem a necessidade de se aproximar, de ouvir, de compreender, mesmo que não saibam o motivo.
O desejo não vem como fome, mas como sede: constante, refinada, enfeitada com idealizações. O portador desse poder torna-se um farol emocional — um centro de gravidade sensorial ao qual todos, voluntária ou involuntariamente, se voltam. Mas esse poder não afeta apenas os outros. Ele age também sobre o próprio portador. A cada vez que é desejado, a cada nova obsessão alimentada, o usuário sente um êxtase silencioso, uma satisfação quente e crescente que vai substituindo necessidades naturais por uma só: ser desejado sempre. O vínculo entre o ser e o mundo se torna mediado pelo reflexo. O toque não basta, a voz não sacia. O que importa é a reação do outro. A confirmação. O delírio que o segue. Quando Sitri manifesta Vinculum Desiderium em forma plena, o ar ao redor se transforma num véu de beleza inatingível. As emoções se intensificam. O tempo desacelera. Pessoas se apaixonam em segundos, criaturas lendárias hesitam em atacar, sacerdotes deuses duelam com seus votos ao sentirem-se tentados pela presença do impossível. O campo de influência se torna uma ilusão viva: cada um vê o portador com a forma que mais deseja — e não consegue desviar o olhar. Mas o verdadeiro terror desse poder não está no domínio — está na dependência que ele gera. Aqueles tocados por Sitri não sentem vontade de obedecer… sentem vontade de permanecer. De serem vistos, tocados, validados. E a cada novo vínculo criado, uma pequena âncora é fincada na alma da vítima. Mesmo quando fogem, sonham. Mesmo quando odeiam, lembram. Mesmo quando amaldiçoam... amam o fato de terem sido notados.

​​informações adicionais
nome sem forma
Sitri, em Midrel, é uma entidade que não ocupa espaço — ele ocupa intenção. É a besta do desejo moldável, do impulso antes da palavra, do encantamento que nasce no olhar e se instala entre os gestos. Entre todos os Pecados, é o mais difícil de identificar como ameaça, pois Sitri não ataca, não invade, não toma à força. Ele apenas surge... onde a vontade de ser desejado começa a substituir a vontade de ser real. Não existe registro fixo de sua origem. Os grimórios mais antigos o chamam de O Nome Sem Forma, pois Sitri jamais teve um rosto verdadeiro. Sua presença em Midrel se manifesta através de vestígios sensoriais: lençóis com perfume que ninguém usou, palavras que foram ouvidas em meio à multidão mas que ninguém pronunciou, sonhos vívidos com figuras impossíveis que deixam o coração em brasa ao despertar. Sua aproximação não é anunciada com tremores ou trovões, mas com ausência súbita de certeza — como se tudo ao redor perdesse foco, e apenas o desejo.
Diferente de outros demônios, Sitri não cultiva exércitos. Ele cultiva fascinação. Seus servidores não se ajoelham. Eles se oferecem. E muitos nem sequer percebem que o servem. Podem ser bardos que vivem apenas pelo aplauso, reis que seduzem multidões sem jamais amarem ninguém, santos que confundem veneração com fé, ou mesmo assassinos cuja beleza os torna intocáveis. Todos eles orbitam em torno de Sitri, sustentados pelo fluxo constante de atenção, encanto e carência alheia. São chamados de Ídolos de Névoa — criaturas cuja identidade foi desfeita pela vontade de serem tudo que os outros esperavam. Em certas regiões do continente, principalmente nos antigos salões decadentes de Soltharys, cultos silenciosos ainda o reverenciam. Não com rezas, mas com espelhos, danças e máscaras. Não pronunciam seu nome — o evocam ao se tornarem desejáveis a qualquer preço. E nas noites em que a névoa cobre as ruas e os lampiões brilham com brilho trêmulo, dizem que Sitri atravessa o mundo real como um sussurro escuro, inspirando paixões impossíveis, relações perigosas e promessas que nascem em beijos e morrem em silêncios. Mas entre os estudiosos da luz interior, há uma advertência clara: quanto mais vezes alguém é tocado pelo desejo alheio... menos permanece de quem se é. Sitri não rasga a alma — ele alivia seu peso até que ela evapore, convertida apenas em reflexo. E ao final, o que resta é apenas imagem — bela, desejada, lembrada — mas vazia.