''Quando o Az’hareth despertar de seu sono profundo, nem os deuses terão onde se esconder.''- Tarim El-Zahar.
O Tarim El-Zahar, chamado entre os antigos Arendar como o Culto da Abjugação, não é simplesmente uma seita ou uma organização de fanáticos. Ele é uma doutrina viva, um organismo espiritual e político que respira através das rachaduras da civilização, enraizando-se silenciosamente em todos os estratos sociais de Varkitan. Seu nome carrega o peso da contradição: temor para aqueles que conhecem seus métodos, e reverência para os que compreendem seu propósito. As origens do Tarim remontam às dunas ancestrais do Deserto de Alpalina, um lugar onde a própria percepção do tempo parece se dissolver na areia e o destino é tratado como um véu frágil, pronto para ser rasgado. Foi ali, entre miragens e visões febris, que Ythalos, o lendário Oráculo do Destino, pronunciou a profecia que definiria toda a estrutura doutrinária do culto. Segundo Ythalos, o mundo avança, de forma inexorável, rumo a uma nova Era das Trevas, um ciclo inevitável de queda e esquecimento, onde os reinos, as nações e os próprios pilares da realidade ruirão.
Brasão de Tarim El-Zahar
O brasão do Tarim El-Zahar é uma representação simbólica tão enigmática quanto sua doutrina. No centro, uma serpente de duas cabeças, entrelaçada em forma de um oito deitado, símbolo do ciclo eterno, mas com uma diferença crucial: ambas as cabeças olham em direções opostas — uma para o passado, outra para o futuro — refletindo o dogma de que o destino pode ser rasgado e reescrito. Ao fundo, um véu de areia estilizado, representando o Deserto de Alpalina e a natureza volátil do tempo e da verdade.
território de el-zahar deserto de alpalina
O território de influência do Tarim El-Zahar é ao mesmo tempo visível e invisível, uma rede sutil que se estende por quase todas as grandes regiões de Varkitan, mas que tem como coração espiritual e geográfico o Deserto de Alpalina, também conhecido nas escrituras veladas como o deserto das areias. O Deserto de Alpalina é uma vastidão de dunas eternamente em movimento, onde o tempo parece hesitar e a própria noção de direção se perde. Ventos carregados de poeira ancestral apagam pegadas em minutos, e o calor durante o dia é tão opressor quanto o frio cortante.
No centro desse deserto, escondida aos olhos comuns, ergue-se a Torre Branca do Tear, um obelisco sem janelas, feito de um material pálido que não reflete a luz. A Torre parece deslocada da realidade, como se estivesse suspensa entre o mundo físico e o espiritual. É ali que os mestres da Ordem de Zan’haril vivem, estudam e traçam os caminhos do culto, decifrando os movimentos do Grande Tear. Fora de Alpalina, o Tarim El-Zahar mantém células adormecidas e círculos de influência nas principais cidades de Varkitan. Pequenas caravanas comerciais, academias discretas de filosofia esotérica, guildas de mercadores, cortes nobres e até algumas congregações religiosas foram secretamente infiltradas ao longo dos séculos. Eles operam como tecelões invisíveis, mexendo com a política, a economia e até com movimentos populares, sempre puxando fios cujas consequências só eles compreendem por completo. O território do Tarim El-Zahar, em essência, não pode ser delimitado por mapas. Ele é uma malha de influência, sussurros e decisões invisíveis… uma extensão física da própria doutrina: onipresente, paciente e inevitável.
ideais de el-zahar retorno da entidade
Os ideais do Tarim El-Zahar são como um fio invisível, costurado na alma de cada seguidor desde o instante de sua iniciação. Não se trata de dogmas escritos em pedra ou preceitos gravados em pergaminhos sagrados. Eles vivem nas ações veladas, nas palavras não ditas, nas decisões tomadas nas sombras. A essência de sua doutrina é a aceitação da inevitabilidade. Eles creem que o mundo caminha rumo ao colapso e que qualquer resistência contra esse ciclo é fútil, um grito infantil diante da marcha implacável do destino tornando tudo ainda mais fácil.
A abjugação é mais do que um conceito; é uma prática diária. Cada membro aprende a negar as ilusões de livre-arbítrio, recusando os confortos da vaidade, da glória ou da compaixão desmedida. Eles se veem como peças sacrificáveis, instrumentos menores de uma engrenagem cósmica muito maior, cujo fim é a preparação para a chegada do Az’hareth. A devoção ao Inevitável é absoluta. Não existe espaço para arrependimento ou dúvida. Se uma decisão precisa ser tomada, mesmo que envolva manipulação, traição ou assassinato, ela é tomada com a serenidade de quem compreende que o bem e o mal são apenas lados diferentes do mesmo ciclo de repetição. A discrição é uma virtude inegociável. Os membros do Tarim operam nas frestas da realidade social, invisíveis aos olhos comuns. Eles não precisam de reconhecimento, de títulos ou de poder exposto. Sua influência é sutil, mas inegável. Um boato espalhado por um vendedor de rua, uma decisão de guerra sussurrada no ouvido de um rei, um documento falsificado por um escriba… todos são movimentos dentro de um jogo cujo tabuleiro só eles enxergam por completo.
segredos de el-zahar ordem de zan'haril
O maior segredo do Tarim El-Zahar é que nem mesmo seus membros mais antigos compreendem totalmente a verdadeira natureza do Az’hareth. Durante séculos, todas as visões, todas as profecias de Ythalos, todos os fragmentos de premonição colhidos no Tear indicam a vinda de um ser que romperá o ciclo... mas a identidade desse ser permanece um enigma insondável, oculto até mesmo para a própria Ordem de Zan’haril. Alguns no culto acreditam que o Az’hareth será uma entidade de pura luz, um redentor que reescreverá as leis da existência e libertará as almas presas ao Grande Tear, permitindo que elas retomem seu caminho.
Outros sussurram, em preces feitas com medo e desejo misturados, que ele será o portador da ruína final, um anátema tão poderoso que até os deuses esquecerão seus próprios nomes diante de sua passagem. Há ainda os que afirmam que o Az’hareth já caminha entre os vivos, inconsciente de sua própria natureza, sendo manipulado pelas mãos invisíveis do Tarim… como uma peça que desconhece seu papel até o último segundo. Mas o segredo mais profundo, guardado em um círculo ainda menor, oculto até dos mais antigos Arautos e apenas murmurado nas câmaras mais veladas da Torre Branca do Tear, é que… o Tarim El-Zahar pode ter forjado toda a lenda do Az’hareth. Há registros não compartilhados de que a profecia de Ythalos pode ter sido incompleta, ou pior… corrompida. Algumas páginas do Antigo Codex desapareceram. Fragmentos das visões foram ocultados ou deliberadamente rasgados da história por mãos desconhecidas. Existe a possibilidade terrível de que o culto esteja construindo um caminho para um evento que jamais deveria acontecer. Que o próprio Tear resiste à chegada do Az’hareth, e que todas as manipulações feitas até hoje… podem estar costurando o início de um erro cósmico, um ponto de não-retorno. Mas o Tarim El-Zahar avança, ciente de que já foi longe demais para recuar. Mesmo que, ao final de tudo, o Az’hareth não seja o que esperam… ou o que o mundo suportará.
