​​terceiro espírito
UNDRALIS
Undralis, o Espírito da Água, é a encarnação da fluidez, profundidade e transformação constante em Midrel. Não é apenas uma criatura feita de marés ou rios, mas a própria essência da memória líquida do mundo — aquela que flui entre eras, que molda o tempo e dissolve as barreiras. Ela é o sussurro das chuvas, o peso dos oceanos, o lamento dos glaciares e a fúria incontrolável das tempestades. É vida em movimento, mas também esquecimento — um ciclo eterno entre nutrir e afogar. Undralis não possui uma forma fixa. Seu corpo muda conforme o ambiente e a intenção: ora é uma figura serpentina feita de correntes ondulantes, com escamas de gelo azulado e olhos profundos como abismos marinhos; ora toma a forma de uma mulher etérea envolta em véus de névoa e gotas suspensas, de maneira geral.
Ela habita as regiões mais profundas do mundo, lugares onde a luz não alcança e o tempo parece congelado em suspensão. Suas moradas são tanto oceanos encantados quanto nascentes secretas, cavernas de gelo eterno ou lagoas refletidas por luas que nunca surgem. Onde quer que esteja, o ambiente responde à sua presença: as águas se tornam mais densas, os sons se dissipam, e a sensação é de que tudo está sendo observado por olhos invisíveis no fundo de um espelho que nunca se quebra. Undralis é a senhora do fluxo. Onde a Terra sustenta, ela conecta. Onde o Fogo queima, ela acalma. Onde o Ar carrega, ela envolve. Mas não se engane com sua graça serena, atingindo seu objetivo.

​características da besta
conhecimento geral
Uma entidade ancestral que representa o ciclo eterno da fluidez, adaptação e profundidade. Ela existe desde os primórdios da formação de Midrel, quando as primeiras nuvens se condensaram e os mares se formaram nos vales primitivos. Diferente das forças que moldam com violência ou permanência, Undralis molda com persistência — gotejando, corroendo, nutrindo e apagando, até transformar completamente tudo o que toca. Seu domínio não se limita aos oceanos. Undralis rege tudo que é líquido: rios, lagos, chuvas, névoas, neves e até as correntes subterrâneas que serpenteiam sob os ossos do mundo. Ela também possui uma ligação íntima com a memória e o inconsciente — sendo associada ao esquecimento, à introspecção e aos segredos submersos. Muitos oráculos e oniromantes a veneram como a Mãe das Verdades Afogadas, pois dizem que sua essência guarda lembranças que o mundo tentou enterrar, mas a água sempre traz de volta para o renascimento necessário.
Undralis é profundamente neutra. Ela não ama nem odeia — ela aceita, envolve e transforma. Sua presença pode ser tanto um bálsamo quanto uma sentença. Acalma os desesperados com sua névoa e afoga impérios sob o peso de suas marés. Para ela, tudo é parte do fluxo — não existe começo ou fim, apenas movimento. Essa filosofia é seguida por alguns poucos cultos aquáticos, xamãs nômades e sociedades lacustres que vivem à margem do mundo, respeitando seus ciclos com rituais silenciosos. Entre os espíritos elementais, Undralis é a mais difícil de compreender, pois nunca se revela de forma total. Seus encontros são marcados por visões nebulosas, espelhos d’água que mostram reflexos de vidas passadas, e vozes que sussurram do fundo de poços antigos. Ela se recusa a ser contida ou domada — qualquer tentativa de aprisioná-la, canalizá-la de forma forçada ou explorar sua essência resulta em distorções catastróficas no ciclo natural das águas. Undralis é, acima de tudo, a essência do movimento interior. Não apenas do mundo, mas das emoções, das escolhas e das histórias que escorrem pelo tempo. Ela é o que lava, o que molda e o que leva. E embora muitos temam sua presença pelas cheias e afogamentos, os sábios sabem que é graças a ela que o mundo respira, de forma geral.

​localidade da besta
oceanos perdidos
A morada da besta da Água se encontra onde os mapas se desfazem, nos confins esquecidos da criação, abaixo dos oceanos mais antigos e além das correntes visíveis. Ela repousa nas profundezas insondáveis de um abismo ancestral, onde a luz não ousa descer e onde a própria pressão do mundo parece deter o tempo. Nesse espaço submerso, não há som — apenas o pulsar ritmado da água comprimida, como se o coração do mundo líquido batesse lentamente em um útero escuro e intocado. A entrada para esse domínio não é fixa. Às vezes, surge em meio à névoa que cobre lagos esquecidos; em outras, abre-se nas ruínas de templos submersos, onde a pedra foi devorada pela umidade e o silêncio reina absoluto. Há relatos de viajantes que ouviram sussurros vindo do fundo de poços infinitos ou avistaram olhos cintilando sob o gelo de regiões glaciares — pistas breves da presença daquele que habita o profundo.
O ambiente ao redor da besta é onírico, quase irreal. A água ali não obedece às leis comuns: ela flutua em colunas, forma esferas suspensas no vazio, espelha visões de memórias esquecidas e provoca uma sensação de déjà vu constante. As correntes se movem com vontade própria, guiando ou desviando intrusos, como se testassem suas intenções. Nenhum som se propaga com clareza, e até a magia parece se dissolver lentamente, como tinta em maré. Ali, o tempo perde sentido. Plantas aquáticas de aparência alienígena florescem em câmera lenta, iluminadas por luzes bioluminescentes que surgem e desaparecem como respirações. Criaturas antigas, de formas alongadas e olhos vazios, nadam entre estruturas colapsadas que nunca foram construídas por mãos mortais. Ruínas se misturam à própria anatomia do lugar — como se as civilizações que ali chegaram tivessem sido absorvidas, esquecidas e fundidas à essência da besta. Aqueles que alcançam esse local raramente retornam. Os que conseguem, carregam marcas que não se curam, vozes que escutam em sonhos, ou a perda completa da noção de identidade. Pois não é apenas uma descida física — é um mergulho na consciência do mundo líquido, onde tudo o que é sólido é desfeito, e tudo o que é lembrado se torna parte das águas. Ali, a besta dorme, mas nunca deixa de observar. E em sua vigília serena, guarda os ecos de tudo o que já foi afogado pela passagem do tempo.

​poder da besta
espelho da maré
Espelho da Maré é o poder supremo da besta da Água, a manifestação mais pura da fluidez, da distorção e da anulação das certezas. Não se trata de destruição direta, mas de dissolução total da forma, da vontade e da identidade, como se a realidade fosse submersa sob o peso de uma verdade líquida e inescapável. Quando esse poder se ativa, o mundo ao redor da besta muda de comportamento — não com violência, mas com uma serenidade aterradora. O chão transforma-se em espelhos líquidos que não refletem o presente, mas distorções do que foi e do que poderia ter sido. O ar se torna pesado e úmido, abafando sons e pensamentos, mergulhando tudo em um torpor profundo. As águas, sejam naturais ou conjuradas, passam a obedecer apenas à vontade da besta, formando redemoinhos que não giram no espaço, mas na mente e no espírito dos que estão ao redor. Magias se desfazem antes de serem pronunciadas, lembranças são confundidas, e decisões se embaralham.
O Espelho da Maré não destrói os corpos — ele desorienta as almas, desmancha convicções e transforma certezas em dúvidas líquidas. Um guerreiro armado pode erguer sua espada apenas para esquecer por que lutava. Um conjurador experiente pode ver seus feitiços se desmancharem como fumaça em água. Criaturas de pura determinação tornam-se espectros vagos, guiados por impulsos perdidos, incapazes de resistir à pressão constante e silenciosa do oceano que cresce ao seu redor. Esse poder também influencia o próprio espaço. Estruturas perdem coesão, tornando-se fluídas, como se derretessem em reflexos. Vozes ecoam de formas irreconhecíveis. Espelhos de água se formam e mostram não o que está diante deles, mas imagens que perturbam, que confundem, que desfazem a lógica da presença. E aquele que olha por tempo demais, sente-se ser puxado — não fisicamente, mas interiormente — para dentro da superfície que nunca para de ondular. O Espelho da Maré é, acima de tudo, o triunfo da impermanência. Ele representa o domínio do instável, do volátil, do impossível de reter. Contra ele, não há armadura que proteja, pois não atinge o corpo. Não há muralha que defenda, pois não é um cerco. Ele é a maré que se ergue, indiferente, para cobrir todas as formas — e quando recua, deixa para trás um silêncio molhado, onde aquilo que era simplesmente já não é.

​​informações adicionais
origem da agua
A origem da Água em Midrel remonta aos sussurros anteriores à luz, quando o mundo ainda não possuía forma nem estrutura, apenas impulsos. Enquanto a Terra se condensava no silêncio e o Fogo gritava por existência, a Água surgiu como o primeiro gesto de movimento — uma oscilação no vazio, um murmúrio que fluiu entre os elementos recém-nascidos como um laço invisível. Ela não nasceu de explosão ou colisão, mas da necessidade primordial de preencher, conectar e transformar. A primeira gota não caiu — ela deslizou do éter, dançando entre faíscas e poeira cósmica, envolvendo fragmentos de criação em suas curvas silenciosas. Onde havia calor, ela se condensava. Onde havia caos, ela se espalhava. E onde havia solidão, ela escorria, preenchendo o mundo com reflexo e eco.
Dizem que as primeiras marés não vieram do mar, mas do próprio batimento do plano, que começava a respirar pela primeira vez. A Água foi o primeiro ritmo, o primeiro ciclo. Ela foi a única a tocar todos os elementos sem se opor a nenhum. Com a Terra, cavou rios e moldou vales. Com o Ar, ergueu névoas e chuvas. Com o Fogo, criou vapor e diluição. Nunca se impôs. Apenas esteve presente. Fluía. Mudava. E, por isso, sobreviveu a tudo — mesmo aos eventos que destruíram reinos, mesmo às guerras entre planos. A Água não luta para existir; ela apenas continua. Sua essência é mais antiga que a própria noção de forma. Onde o tempo falha, ela permanece. E por isso, muitos acreditam que a Água guarda as verdades que os deuses esqueceram, os nomes apagados pelo tempo, e os rostos que nunca foram lembrados. Em cada gota, uma memória. Em cada mar, uma história não contada. Ela não fala, mas espelha. Não ensina, mas mostra. E tudo que é mergulhado nela carrega marcas que o mundo seco jamais entenderá. A Água nasceu com o mundo, mas não dele. Ela veio antes — não como criação, mas como lembrança. Uma lembrança viva do que havia entre o início e o esquecimento. E até hoje, ela sussurra esse passado em cada onda, em cada bruma, em cada reflexo que não se repete, atingindo assim tudo que existe em seu corpo.