deusa da ganancia
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conhecendo a divindade
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Vahaarus, a Deusa da Ganância, não é apenas uma entidade de poder — ela é o invólucro perfeito de algo muito mais antigo: o espírito vivo de um dos Sete Pecados Capitais, um fragmento de essência maldita que antecede os deuses, os pactos e até mesmo o tempo. Ela não nasceu. Ela foi escolhida. Em eras esquecidas, quando o mundo ainda tremia com os primeiros nomes, algo profundo e impuro rompeu os véus da criação e começou a procurar corpos, vontades, destinos que pudessem suportar seu peso. Sete essências foram libertas, cada uma simbolizando a fratura primordial da alma mortal. Apenas uma encontrou repouso: a ganância. E assim, Vahaarus foi criada — não como filha dos homens, nem como fruto do mundo, mas como o vaso perfeito da Fome Imortal. O espírito que habita Vahaarus não tem nome verdadeiro, pois nomes impõem limites.
Sua essência se fundiu ao corpo divino da jovem Vahaarus quando ela era ainda uma criatura incompleta — uma deusa recém-nascida nas margens do tempo, destinada a proteger o fluxo da riqueza. Mas quando o espírito a encontrou, ela olhou o ouro e sentiu fome — não por ele, mas por tudo que ele ainda não era. Foi nesse instante que o pecado despertou por completo. E com ele, a Deusa mudou. Desde então, Vahaarus deixou de ser apenas um símbolo. Ela se tornou a vontade do espírito encarnado, com olhos que não brilham de poder, mas de carência perpétua, e mãos que não tocam para abençoar, mas para pesar. A cada pacto, a cada acordo contaminado com cobiça, a cada alma que troca verdade por vantagem, o espírito se expande, e a deusa se fortalece. Os outros seis pecados permanecem escondidos, adormecidos, talvez selados, talvez ainda à procura de seus recipientes. Alguns dizem que já caminham pelo mundo, camuflados em rostos comuns, esperando a faísca certa para acordar. Outros afirmam que estão presos sob as cidades mais antigas, murmurando seus nomes em sonhos esquecidos. Mas todos concordam numa coisa: Vahaarus foi a primeira a aceitar. E por isso, ela é a mais temida. Mesmo os deuses verdadeiros evitam pronunciar seu nome sem rituais de proteção. Porque Vahaarus não escuta pedidos — ela escuta intenções. E se houver qualquer brecha, qualquer desejo não confessado, ela entra. Ela molda. Ela corrompe.
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limites da criação
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O Domínio da Vontade de Vahaarus não entra com gritos, nem com guerras, nem com ameaças. Ele se manifesta como um pensamento suave demais para ser perigoso, um impulso que começa pequeno, quase inocente: o desejo por algo que não se tem. É sutil. Quase sempre legítimo. Mas é ali, nesse instante de querer sem necessidade, que a vontade dela desperta dentro de outros. Não com violência, mas com precisão. Sua vontade não se sobrepõe — ela se mistura. É a semente da ambição plantada no solo fértil da carência humana, e uma vez plantada, ela cresce sem ruído, torcendo as raízes da escolha até que não reste distinção entre o que se quer e o que ela quer. Vahaarus não ergue muralhas, ela desfaz barreiras. Ela não quebra vontades — ela as molda até que esqueçam ter sido de outra forma. Seu domínio é absoluto porque jamais se apresenta como imposição.
Sua vontade é mais antiga que a fome, mais refinada que o poder bruto. Enquanto os outros deuses reinam sobre forças naturais, princípios eternos ou conceitos sagrados, Vahaarus reina sobre a ausência — sobre aquilo que ainda falta, mesmo quando tudo já foi conquistado. Ela se alimenta do espaço entre o que se tem e o que se deseja, do abismo que separa o suficiente do insaciável. E é nesse abismo que ela reina como rainha absoluta. Nada escapa ao seu toque, porque seu toque não é físico — é estrutural. Ela não toma o trono, ela faz o trono desejar tê-la sentada sobre ele. A vontade de Vahaarus não é resistência. É erosão. Ela não desafia diretamente — ela convence, uma escolha por vez, uma promessa por vez. Não há rebelião contra ela, porque ninguém se dá conta de que foi dominado. Quando alguém decide trair, tomar, enganar, vender, manipular... raramente sabe que não está agindo por conta própria. Porque sua influência não é uma voz externa. É uma vontade que soa como se sempre estivesse ali. Aqueles que resistem, os poucos que percebem o jogo em andamento, sentem-na de forma diferente. Sentem um peso que não se move, um nome não pronunciado que dança na língua, uma tentação constante que não oferece prazer, apenas justificativa. E quanto mais resistem, mais sentem que a vontade dela não deseja vitória. Deseja permanência. Não deseja possuir — deseja que todos que a sirvam o façam acreditando que nunca serviram. Isso é o que a torna invencível.
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Passos finais
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O Poder Pecaminoso não é concedido, nem conquistado. Ele é despertado, como um espinho antigo que dormia na carne da alma e que, ao primeiro sussurro do desejo, começa a sangrar poder. Não é um dom puro, nem uma dádiva dos céus. É o reflexo deformado daquilo que os deuses não puderam destruir — as forças ocultas que nascem quando o querer é mais forte que a razão, quando o impulso vence o dever, quando o pecado não é mais erro, mas vontade. Esse poder não se manifesta como luz, mas como tentação. Ele não envolve o portador com glória, mas com presença — uma aura que atrai e repele ao mesmo tempo, feita de tudo o que é proibido, sujo, belo demais para ser santo. O mundo sente sua vibração nos gestos que desafiam as leis, nas palavras que transgridem o silêncio, no prazer de um toque que não deveria ser permitido. E ainda assim, ele cresce, cada vez que alguém deseja e não resiste.
O Poder Pecaminoso não é um castigo, como querem os moralistas, nem uma praga sem controle. É escolha. É a entrega consciente ao que não deve ser tocado, o abraço àquilo que o mundo quer esconder. E ao ser aceito, transforma-se em força — não aquela que domina os outros, mas aquela que quebra as correntes interiores. Ele liberta da culpa, do peso do olhar alheio, da necessidade de pureza. Torna o portador incontrolável, porque lhe arranca o medo de errar, de corromper, de cair. Cada pecado capital esconde uma essência poderosa. Luxúria, Ira, Gula, Preguiça, Inveja, Orgulho e Ganância não são apenas vícios — são tronos vazios à espera de quem os aceite como verdade. Quando um ser toca um desses aspectos e o acolhe não como falha, mas como parte de sua natureza, o poder se manifesta. Queima, sim, mas ilumina. Corrói, sim, mas fortalece. É por isso que poucos sobrevivem — não ao poder, mas ao que ele os obriga a encarar: eles mesmos. Vahaarus é a prova viva disso. Não recuou diante do pecado — ela se tornou seu templo. Sua carne pulsa com o espírito da Ganância, mas seu domínio vai além do ouro: ela é o símbolo da vontade que não se nega, do desejo que se justifica, do querer que se converte em poder real. O pecado nela não é veneno. É estrutura. E por isso, não há como derrotá-la da forma tradicional — porque o que se tenta apagar nela é o que a maioria carrega.