​​pecado da inveja
vassago
Vassago, em Midrel, é a Invejosa Velada, a entidade que carrega em silêncio o fardo do Pecado da Inveja, não como uma emoção passageira, mas como uma maldição lenta, sorrateira e insaciável. Ela não ergue muralhas, não marcha em guerra — ela observa, compara, deseja em silêncio, até que sua presença desfaça tudo o que era genuíno. Vassago é a ausência de contentamento, o reflexo amargo, a angústia de não ser o outro. Sua aparência é elegante, etérea, mas inquietante. Uma figura feminina coberta por um manto de espelhos trincados, com olhos escuros que não brilham, apenas refletem o que está fora — nunca o que está dentro. Ela nunca caminha com pressa, nunca fala alto. Ela murmura dúvidas em vozes familiares, insinuando que o amor que o outro recebe deveria ser seu, que a glória do outro.
Vassago não busca destruição. Ela busca substituição. Ela quer ser o que você é, tomar o que você ama, vestir o que te torna especial — não porque deseja te ver cair, mas porque acredita que deveria ter sido ela desde o início. E quanto mais alguém a escuta, mais sua própria identidade começa a desvanecer, como uma vela sufocada em inveja. Ela não ataca. Ela convence. Os que caem sob sua influência tornam-se sombras do que eram: passam a se ver pelos olhos dos outros, se afogam em comparações, vivem colecionando os triunfos alheios como cicatrizes internas. Muitos de seus seguidores nem sabem que a servem — apenas repetem um padrão doloroso de cobiçar o que não têm e menosprezar o que já são para se sentir melhor em seus limites.

​características da besta
conhecimento geral
Vassago, a personificação da Inveja em Midrel, é uma besta de presença sutil, mas devastadora. Ela não chega como tempestade — chega como brisa comparativa, como um olhar atravessado, como uma palavra que deveria ser um elogio, mas pesa como veneno. Sua essência não se alimenta da vitória dos outros, mas da dor que nasce quando alguém percebe que não é quem gostaria de ser. É neste instante, tão íntimo e silencioso, que Vassago desperta dentro da alma. Desde os tempos antigos, sua influência cresceu nos bastidores dos grandes impérios, nas cortes silenciosas onde um olhar derruba mais que uma lâmina. Histórias perdidas falam de Vassago como uma entidade esquecida por todos, exceto por ela mesma — a filha da criação que sempre ficou na sombra de outros deuses, outras entidades, outros nomes.
Não suportando mais ser ignorada, ela fundiu sua essência ao próprio desejo de ser o outro, tornando-se a primeira voz do ressentimento, a chama fria da comparação eterna. Seu corpo é esguio, elegante, coberto por um manto de espelhos fragmentados que jamais refletem quem a observa — apenas mostram versões distorcidas de quem o observador gostaria de ser. Seus olhos são dois poços escuros que não enxergam o mundo, mas as dores não ditas de cada alma. Quando fala, sua voz muda de tom conforme a insegurança de quem escuta, e cada palavra parece familiar, como se tivesse sido pensada antes. Ela não ensina. Ela confirma o que já estava escondido. Vassago não lidera exércitos. Ela espalha dúvidas. Cada um de seus passos deixa para trás sentimentos podres: rivalidades disfarçadas, amizades quebradas por comparação, famílias dilaceradas por competição silenciosa. Ela não toca. Mas sua influência se espalha onde há talentos ignorados, beleza despercebida, justiça desigual. Ela faz questão de lembrar a todos aquilo que jamais terão, e então se alimenta da frustração, do recalque e da dor engasgada. Aqueles que caem sob seu domínio passam por uma metamorfose interior: deixam de agir por vontade própria e passam a viver em função do que os outros são. Tornam-se reflexos vazios, competidores de jogos que nunca começaram, imitadores de vidas que não viveram. São chamados de Espelhos Partidos, pois já não possuem uma identidade inteira — apenas pedaços de tudo que desejam ser, e ódio por quem conseguiu antes.

​pacto demoníaco
limites da inveja
O Pacto Demoníaco com Vassago, em Midrel, não acontece por ambição explícita ou por sede de poder imediato. Ele começa com algo muito mais íntimo, silencioso e perigoso: a dor de se sentir insuficiente, o momento em que alguém olha para o outro e sussurra, mesmo que só para si: “Por que ele... e não eu?” Esse sussurro não ecoa no mundo, mas dentro da alma — e é ali que Vassago escuta. Ela não aparece com promessas de glória, nem exige sacrifícios viscerais. Ao contrário, Vassago oferece algo que poucos recusam: o reconhecimento nunca recebido, o lugar que sempre foi dado ao outro, o reflexo que sempre se quis ver no espelho. O pacto é selado não com sangue, mas com comparação, quando o indivíduo escolhe o ressentimento ao invés da aceitação, a imitação ao invés da essência.
A partir do momento em que o elo se forma, Vassago passa a se manifestar sutilmente: pensamentos recorrentes de inferioridade, olhares de inveja que ganham força, o desejo incontrolável de superar não por mérito, mas por anulação. A alma do pactuado se desloca do centro de si mesma e começa a orbitar os outros, tornando-se um espelho sensível e faminto por atenção, validação e conquista alheia. E o que começa como inveja torna-se obsessão pela substituição. O dom concedido por Vassago é chamado de Speculum Obscurum, o Espelho das Máscaras. Ele permite ao pactuado copiar dons, gestos, estilos e até habilidades daqueles que mais inveja, reproduzindo com perfeição ilusória tudo que o outro possui — mas sem compreender sua verdadeira origem. Vozes são imitadas, aparências duplicadas, talentos replicados... mas tudo como uma cópia viva, pálida e incompleta. O mundo o aplaude, mas a alma permanece vazia, pois aquilo nunca foi seu. Com o tempo, o pactuado começa a esquecer quem era. Lembra-se de nomes alheios com mais clareza do que do próprio. Age como o outro, fala como o outro, deseja o que o outro possui — e não sabe mais se aquilo é amor, ódio ou fome. Vassago se fortalece quanto mais o indivíduo se dissolve na imagem do que queria ser, até que não reste mais nada de autêntico — apenas o reflexo moldado por inveja. Romper o pacto é cruel. Não exige apenas renúncia ao poder — exige a reconstrução do próprio “eu”. E isso significa aceitar as falhas, o que nunca se terá.

​poder da besta
espelho quebrado
O poder de Vassago, em Midrel, é chamado de Speculum Ruptum, o Espelho Quebrado, uma força sutil e envenenada que não destrói com violência ou fogo — mas com comparação e desintegração do eu. É um poder que age no invisível, que não precisa de um gesto para ferir, apenas de uma verdade não dita: “Você poderia ser melhor, se fosse como o outro.” Speculum Ruptum concede a Vassago a habilidade de distorcer a percepção que os seres têm de si mesmos e dos outros, criando um campo de influência onde a autoestima apodrece, os vínculos se rompem, e até as certezas mais íntimas se desfazem em dúvida e frustração. Quando esse poder se manifesta, os inimigos de Vassago não veem a realidade como ela é — mas como temem que ela seja: companheiros se tornam rivais, aliados parecem superiores, e até os mais puros sentimentos ganham tons.
Essa distorção não é apenas emocional: ela afeta até o corpo e a energia espiritual. Aqueles atingidos pelo campo de Vassago podem ver-se mais fracos, ouvir palavras que não foram ditas, reviver memórias de derrota ou humilhação amplificadas. Cada passo dentro de seu domínio é uma comparação viva — e todos saem perdendo. O ápice de Speculum Ruptum é a capacidade de refletir e copiar as virtudes alheias de forma imperfeita, alimentando a ideia de que é possível ser o outro, superar o outro, até substituí-lo. Vassago pode capturar fragmentos de magia, estilos de combate, expressões de fé, e reproduzi-los como imitações cravadas de desequilíbrio — belas, mas ocas. Poderosas, mas sem alma. Essas réplicas, quando usadas contra o original, provocam uma reação espiritual dolorosa, pois não são apenas cópias — são negações. São ataques à identidade. O alvo não sente apenas dano físico, mas fragilidade existencial, como se alguém estivesse tentando apagar seu nome da realidade e escrever outro em seu lugar. Mas o poder mais temido de Vassago não está na imitação. Está no silêncio. Quando ela ativa plenamente Speculum Ruptum, pode tornar invisível a existência de alguém aos olhos dos outros, apagando sutilmente sua presença da memória coletiva, substituindo-o por versões mais atraentes, mais fortes, mais dignas. A pessoa continua viva — mas o mundo começa a esquecer. Como se ela tivesse sido substituída.

​​informações adicionais
inveja eterna
Vassago, em Midrel, é o espelho quebrado que nunca reflete quem você é — apenas quem você gostaria de ser, e o quanto isso está distante de sua realidade. Ela não governa pela força, nem encanta como uma musa demoníaca. Ela desmonta lentamente a identidade dos seres, peça por peça, até que tudo o que reste seja o eco amargo de uma existência construída em cima de comparação e ressentimento. Ela caminha nas sombras dos palácios, nas entrelinhas de histórias de heróis, nas disputas silenciosas entre irmãos e aliados. Sua presença é fria e sutil, como a brisa que antecede o ciúme, o olhar enviesado de alguém que finge felicidade, a gentileza forçada de quem está contando vitórias que não são suas. Diferente de outros demônios, Vassago não inspira adoração — ela se faz presente na ausência, no silêncio entre os aplausos, no incômodo que nasce quando o brilho do outro.
Ela é temida entre os estudiosos da alma, pois seu domínio, Specula Caecorum, é considerado uma prisão sem grades, onde não se é punido com dor, mas com lembrança constante de que jamais se será suficiente. Essa dimensão possui salões infinitos cheios de espelhos, mas nenhum reflete a forma real do visitante. Cada superfície mostra alguém mais belo, mais amado, mais forte, mais louvado. E aos poucos, o visitante começa a desejar ser aquilo — e a odiar quem realmente é. Vassago tem especial influência entre artistas, guerreiros e líderes. Ela se alimenta da comparação, e onde há talento, há inveja — e onde há inveja, há um lugar para ela entrar. Seus servos são chamados de Reflexos Vivos, e quase nunca sabem que a servem. São aqueles que vivem tentando copiar, superar, substituir. Que medem suas conquistas com base nas dos outros. Que sorriem por fora e sangram por dentro toda vez que não recebem o mesmo reconhecimento. Eles não são maus. Estão apenas presos à fome de ser o que não são.​ Não existe trono físico para Vassago. Ela se senta em consciências partidas. Seu símbolo é um espelho trincado ao centro, com bordas douradas — representando o desejo de glória envolto na certeza de não possuí-la. Ela não exige rituais, nem oferendas. Ela exige espaço para se refletir. E em um mundo como Midrel, onde cada alma quer ser lenda, ela sempre encontra onde habitar, independente da era.