primordial da agua
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conhecendo a divindade
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Os Mares Primordiais, forjados pela vontade de Velynda, a Mãe das Marés, são vastidões infinitas de água cósmica, anteriores à própria estrutura dos mundos. Eles não obedecem às leis da física, do espaço ou da razão. São feitos de matéria líquida e memória viva, um oceano consciente que pulsa com a história não contada do multiverso. Antes que existissem terras, antes que o tempo fluísse em linha reta, os Mares Primordiais já ondulavam nas dobras do nada, guardando em suas profundezas o que foi, o que é e o que poderia ter sido.
Esses mares não se limitam a um plano ou dimensão. Eles permeiam as realidades como correntes de essência emocional, fluindo entre mundos e corações, sussurrando verdades esquecidas.
Esses mares não se limitam a um plano ou dimensão. Eles permeiam as realidades como correntes de essência emocional, fluindo entre mundos e corações, sussurrando verdades esquecidas.
Há regiões dos Mares Primordiais que são calmas e espelhadas, onde as águas projetam visões de amores perdidos, promessas feitas em vidas passadas e futuros possíveis. Mas há também os Remoinhos de Lamento, áreas onde a dor e o arrependimento acumulados de eras inteiras se condensam em tempestades chorosas, criando vórtices que podem sugar até entidades imortais para dentro de suas próprias culpas. Criaturas nascidas nesses mares não possuem corpo fixo. São feitas de sal e emoção, de melancolia e êxtase, de memória e intuição. Chamadas de Velyssens, essas entidades agem como guardiãs, mensageiras ou punições vivas — espelhos ambulantes que assumem formas extraídas do íntimo daqueles que os encaram. Diante de um Velyssen, um guerreiro pode ver sua mãe falecida, um rei pode ver o trono vazio, um deus pode ver o seu esquecimento. No centro mais antigo dos Mares Primordiais repousa o Abismo da Primeira Gota, o ponto onde Velynda verteu a primeira lágrima cósmica, dando origem às águas eternas. A lenda diz que essa gota não veio de tristeza ou dor, mas de compaixão — um ato de permitir que o mundo tivesse um lugar onde pudesse lembrar, onde pudesse retornar. Porque tudo que nasce, um dia busca voltar ao seu começo, de todas as formas.
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limites da criação
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O Grande Oceano, um fragmento dos próprios Mares Primordiais, é o vasto e indomável lar da Marinha Imperial, a mais poderosa força naval já registrada nos ciclos da história. Estendendo-se por milhares de léguas entre continentes esquecidos e arquipélagos encantados, esse oceano não é apenas um corpo d’água comum — ele respira com a vontade da própria Velynda, abrigando correntes que respondem a emoções humanas, tempestades que surgem ao sabor do destino e profundezas onde o tempo se dobra como as marés. É nesse cenário sublime, imprevisível e muitas vezes divino que a Marinha Imperial ergueu seus estandartes. Seus navios não são apenas feitos de madeira e aço — muitos são construídos com materiais ancestrais retirados do fundo do oceano, como o Kelanthium, um coral endurecido por eras que pulsa com luz azulada.
A Marinha Imperial foi criada nos dias posteriores à Primeira Guerra Primordial, quando as nações perceberam que as terras podiam ser conquistadas, mas os mares jamais seriam domados. Para proteger rotas sagradas, impedir que os horrores dos Mares Primordiais tocassem o mundo material e garantir o monopólio sobre as ilhas flutuantes de memória, o Império consagrou toda uma casta guerreira ao oceano. Desde então, a marinha é tão política quanto mística, com almirantes que também são oráculos, e capitães que fazem pactos com entidades aquáticas em troca de proteção e ventos favoráveis. No coração do Grande Oceano, entre as brumas que nunca se dissipam, flutua a Fortaleza de Lântoris, a base da Marinha Imperial, erguida sobre o casco fossilizado de uma criatura ancestral das águas — dizem ser o corpo de um Velyssen adormecido, que ainda sussurra canções proféticas em noites sem lua. Dali partem todas as grandes expedições, caçadas aos piratas abissais, e cerimônias de unificação com as marés. O relacionamento da Marinha Imperial com Velynda é ambíguo. Eles a reverenciam como guardiã e temem como juíza.
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Passos finais
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Após o fim da Primeira Guerra Primordial e a queda de Mordok, o caos continuou a envenenar os cantos mais profundos do cosmos — e os mares não foram exceção. Muitas das criaturas que habitavam os Mares Primordiais, geradas a partir de emoções cruas, sonhos deformados e fragmentos de lembranças esquecidas, começaram a se corromper. Elas tornaram-se aberrações abissais: entidades que se alimentavam da dor dos vivos, que caçavam memórias para devorá-las e que provocavam naufrágios em troca de ecos de antigos sentimentos. Foi então que Velynda, a Mãe das Marés, impôs o seu juízo. Não com violência destrutiva, mas com uma determinação ancestral e inabalável. Ela selou os abismos, impôs comandos sobre as ondas, e aprisionou todas as criaturas do mar por toda eternidade.
Em uma vasta ação de poder absoluto, ela estendeu sua vontade por todos os reinos aquáticos e invocou a Maré do Silêncio, uma corrente espiritual tão profunda que afogava até mesmo as intenções de fuga. Com ela, encerrou as bestas, os demônios aquáticos e os sonhos envenenados em Prisões Salinas — celas cristalinas feitas da própria água do tempo, onde o passar das eras é suspenso e o esquecimento é lento, mas implacável. Cada criatura aprisionada carrega consigo um símbolo — uma concha selada pela própria Velynda — que impede que qualquer evocação, pacto ou magia marinha as liberte sem o consentimento dela. Essas criaturas jazem nos Fundos Imóveis, regiões onde nem a luz nem o som chegam, onde as correntes não movem as águas e onde apenas as almas que se perderam totalmente conseguem cair. A lenda diz que, em sua tristeza por ter que encerrar suas filhas e filhos aquáticos, Velynda derramou sete gotas de pura lágrima divina, e de cada uma surgiu um novo mar. Mas nenhuma criatura criada após o selo possui a consciência dos antigos: o oceano continua vivo, mas nunca mais será tão profundo. Mesmo assim, sacerdotes e conjuradores ousam tentar escutar os sussurros.