Vyrmathys é uma dimensão suspensa entre a vida e a morte, um reino onde tudo o que foi belo um dia — civilizações, mundos, sonhos — é preservado não em seu esplendor, mas em seu declínio perfeito. Não há rejuvenescimento em Vyrmathys, nem verdadeira destruição: há apenas o congelamento eterno da ruína, da queda, do último suspiro de algo que um dia brilhou com glória. Ao adentrar Vyrmathys, o viajante se depara com campos infinitos de jardins mortos, onde flores de cristal rachado tremulam sob ventos invisíveis e árvores de pedra sussurram com galhos desfolhados. Palácios tombados, castelos partidos ao meio, bibliotecas devastadas pelo tempo e templos corroídos por raízes negras compõem a paisagem. Tudo aqui está à beira do esquecimento, preservado no exato momento da decadência, como se o tempo tivesse parado num suspiro final. O céu de Vyrmathys é uma tapeçaria cinza e carmesim, atravessado por constelações partidas, estrelas quebradas como cacos de vidro pendurados no vazio. O próprio ar é denso, impregnado do cheiro de coisas antigas, uma mistura de incenso, poeira e ferro oxidado em seus limites.
Governante Iluminado
Velmorys não nasceu, não foi coroado, não foi eleito. Ele aconteceu, como uma consequência inevitável do próprio princípio que rege Vyrmathys: a ruína eterna. Quando os primeiros mundos começaram a morrer, quando os primeiros sonhos foram abandonados, quando as primeiras promessas foram quebradas, Velmorys emergiu do espaço entre o esquecimento e a memória, uma entidade feita do que sobra quando tudo mais se vai. Isso torna esse mundo rompido extremamente poderoso e perigoso em seus meios.
limites do mundo corrupçao ancestral
Antes mesmo que as primeiras torres ruíssem, antes que as flores de cristal quebrado desabrochassem sob os céus de chumbo, já existia em Vyrmathys uma presença adormecida — antiga, paciente, incurável. Essa presença não nasceu da maldade nem do acaso. Ela é anterior a ambos. Ela é a própria Corrupção Ancestral: o princípio lento, sorrateiro e absoluto de que tudo o que é criado carrega em si a semente da própria ruína. A Corrupção Ancestral não se manifesta como uma entidade visível. Não há forma que se possa enfrentar, derrotar ou mesmo compreender plenamente. Ela habita o ar pesado, se infiltra na poeira que recobre as bibliotecas arruinadas, vibra nas raízes negras que devoram as estátuas desmoronadas. A Corrupção é um sussurro constante no fundo da consciência, uma aceitação silenciosa de que lutar é fútil e resistência é desconhecida.
À medida que um viajante caminha pelas terras mortas de Vyrmathys, ele sente essa corrupção não como uma ameaça ativa, mas como um cansaço crescente. Pequenas coisas começam a se deteriorar primeiro: uma lembrança importante que escapa da mente como areia entre os dedos, um valor que perde o significado, um sonho que se desmancha sem dor. O processo é tão suave, tão insidioso, que muitos nem percebem que já estão se entregando. A Corrupção Ancestral não destrói com violência; ela carcome com melancolia. Os corpos, as almas e as ideias vão sendo minados de dentro para fora. Os pilares de crença começam a trincar. A esperança se torna pesada demais para carregar. O amor se torna pálido e distante, como uma carta desbotada esquecida pela chuva. Mesmo Velmorys, o Soberano das Cinzas, não é totalmente imune à Corrupção Ancestral. Dizem que ele, mais do que qualquer outro, compreende que sua própria existência é apenas mais uma expressão da ruína eterna. Ele não governa contra a corrupção: ele rege com ela, aceitando-a como o pulsar inevitável do coração de Vyrmathys. Há locais, porém, onde a Corrupção Ancestral se manifesta com mais força — lugares onde até mesmo o tempo parece suspirar.
conhecimentos extras sentinelas de marmore
Espalhadas pelas vastidões silenciosas de Vyrmathys, como fantasmas cravados na carne da terra, estão as Sentinelas de Mármore. Elas não respiram, não piscam, não emitem sequer um suspiro no ar pesado do reino — mas sua presença é tão esmagadora que até o vento parece desviar seu curso para não perturbá-las. Cada Sentinela é uma figura monumental, esculpida em mármore gasto, com feições que já foram grandiosas e agora são apenas sugestões corroídas de rostos antigos. Em suas expressões despedaçadas existe algo que assombra profundamente: não é raiva, nem dor — é um eco de algo maior, uma memória ainda ardendo sob a superfície fria. Elas estão sentadas em tronos de pedra rachada, afundados em lagos secos, cobertos pela poeira de eras incontáveis, ou repousam entre corredores de pilares desmoronados, como reis silenciosos presenciando a lenta deterioração de seus reinos que jamais morreriam.
Os olhos das Sentinelas, quebrados, vazados, cobertos por líquenes ou trincados como porcelana antiga, ainda assim seguem quem ousa cruzar seus domínios. Seus olhares não acusam, não ameaçam. Eles testemunham. Cada passo dado por um viajante é observado com uma atenção esmagadora, como se cada gesto carregasse o peso inevitável da queda, como se as Sentinelas reconhecessem naquele movimento mais um ciclo de ruína prestes a se completar. Dizem que cada uma das Sentinelas guarda o fim de algo que foi tão imenso, tão carregado de existência e de paixão, que nem mesmo a morte total foi capaz de apagá-lo. Cada trono carrega a ruína de um império onde a glória brilhou mais alto do que as estrelas; de um deus cujos cultos atravessaram eras antes de serem tragados pelo esquecimento; de uma paixão tão avassaladora que consumiu mundos antes de se transformar em cinzas e pó. Há quem acredite que, ao permanecer em silêncio diante de uma Sentinela de Mármore, é possível ouvir, não com os ouvidos, mas com a alma, fragmentos dispersos daquilo que elas guardam: um rugido de multidões esquecidas, uma oração nunca terminada, o choro de um rei solitário em seu último dia de reinado. Essas memórias não vêm como visões ou palavras, mas como impressões — um sabor de algo perdido, uma dor que não pertence ao viajante, mas que o marca profundamente, como cicatrizes invisíveis.
ACESSO AO MUNDO portoes DA derrocada
Antes que se possa adentrar os campos desfeitos, os jardins mortos e as torres partidas de Vyrmathys, há uma travessia inevitável: os Portões da Derrocada. Eles não são simples entradas ou monumentos: são o primeiro contato com o destino inevitável que a dimensão impõe. Uma sentença silenciosa de que tudo o que é vivo, tudo o que é belo, tudo o que resiste... está apenas adiando o momento de seu próprio fim. Os Portões da Derrocada erguem-se no meio de um vale afogado em névoa acinzentada. De longe, parecem grandes arcos partidos, sustentados por colunas que já se despedaçaram em dezenas de lugares, mantendo-se de pé apenas por um milagre cruel da gravidade. Cada pedra é lascada, cada entalhe é carcomido pelo tempo que aqui não flui, mas pesa. Nos seus flancos, hieróglifos corroídos contam histórias que ninguém mais consegue decifrar: epopeias esquecidas, juramentos traídos, amores que implodiram sob o próprio peso de suas dores eternas.
Muitos caem antes de atravessar, de joelhos na névoa, esmagados pela visão repentina de todas as coisas que já amaram e perderam. Outros passam cambaleantes, seus olhos vazios de ilusões, com o espírito já corroído antes mesmo de pisarem no solo moribundo de Vyrmathys. Os Portões guardam mais do que a entrada: guardam a própria noção de que a ruína é inexorável. Não importa quanta força ou esperança se carregue; atravessá-los é reconhecer que cada palavra dita, cada império construído, cada juramento feito está condenado a virar pó. Algumas lendas sussurram que, oculto nas fundações quebradas dos Portões, repousa o último eco da criação de Vyrmathys: um lamento tão antigo que não pode mais ser ouvido — apenas sentido como um arrepio constante na alma daqueles que ousam cruzá-los. Velmorys, o soberano imóvel, nunca é visto próximo aos Portões. Não precisa estar. Sua vontade — ou talvez sua simples existência — já é suficiente para mantê-los em pé, como dentes de uma boca eterna que nunca fecha completamente, eternamente pronta para devorar mais sonhos, mais esperanças, mais viajantes que ousam enfrentar a queda. Não existe porta entre os Portões — apenas um espaço vazio, saturado de poeira dourada e fria. Quem se aproxima sente primeiro um cansaço nas pernas, depois um peso estranho na cabeça e no peito, como se todas as culpas e memórias que sustentam seu ser fossem trazidas à tona e cobrassem sua existência em cada passo.